quarta-feira, 15 de julho de 2009

A reportagem


A reportagem é a base do jornalismo. É nessa fase em que os repórteres planejam a matéria a ser escrita, fazem a pesquisa, levantam as informações e escrevem o texto. Reportagem também pode significar um tipo de texto jornalístico. É mais aprofundada que as matérias cotidianas (como as notas e notícias).


Pode ser o fato mais importante do dia visto de vários ângulos. Exemplo: Houve uma enchente em Sorocaba. Cobertura jornalística para: o número de desabrigados; - os estragos provocados pelas águas; - o motivo da enchente; - o histórico da cidade e as enchentes anteriores; - a posição dos políticos a respeito do problema. Os dados podem ser levantados junto aos desabrigados, políticos (prefeito, vereadores, deputados), entidades (Igreja, sociedades beneficentes), bibliotecas.

Um só tema foi dividido em outros, que podem ser chamados de retrancas. Cada retranca possui uma idéia. Serve também para organizar o texto e não deixar um bloco compacto de informações, o que pode assustar o leitor. Geralmente, há uma matéria principal e outras menores acompanhando. O mais importante é que todas elas devem ter algo em comum.

O texto jornalístico não é como se fosse uma redação comum. Deve ser escrito de tal maneira que todos entendam: desde uma pessoa com baixo nível de instrução a um professor universitário. O jornalista não deve escrever o que ele acha. Deve escrever baseado nos dados que ele coletou, que devem ser interpretados com muita cautela.

Exemplo: Chega à Redação a notícia de que uma casa pegou fogo. O repórter deve checar se realmente houve ou está ocorrendo um incêndio. Basta telefonar para o Corpo de Bombeiros ou ir pessoalmente ao local. Surge um boato de que a dona da casa teria começado o fogo para receber o dinheiro do seguro. O repórter deve checar se o boato é verdade. Deve perguntar aos vizinhos e familiares como era o comportamento da mulher. Caso positivo, tome mais cautela. O caso será encaminhado a um Distrito Policial. Peça a opinião do delegado e dos bombeiros sobre o caso. Converse com a mulher que foi acusada. Antes de escrever o texto, colha todos os dados possíveis. Quando tiver segurança de que observou a maior parte dos ângulos possíveis, sente para escrever.

A partir daí, é que entram as retrancas citadas anteriormente. O repórter nunca deve esquecer a Ética. Sem ela, ele perde o prestígio e o caráter. Quando o repórter senta para escrever, já tem o texto na cabeça. Confere as anotações ou gravações e coloca os dedos no teclado.
Geralmente, o primeiro parágrafo da matéria jornalística é chamado de lead. É ele que conduz o leitor para o resto da matéria. Pode ser a parte mais importante da matéria ou o fato que mais chamou a atenção. Deve responder às questões principais em torno de um acontecimento: o quê, quem, quando, como, onde, por quê. Ele deve seduzir o leitor a continuar lendo o resto da matéria.




Exemplo de lead - tomando o caso do incêndio: Um incêndio em uma casa no Centro tirou o sono de muita gente. A casa de número 100 da rua Edward Van Halen começou a queimar por volta das 23 horas de ontem. O fogo foi controlado pelos bombeiros uma hora depois, mas a casa já estava destruída. De acordo com os bombeiros, o incêndio pode ter sido criminoso. O delegado do 55º Distrito Policial (DP), Ozzy Osbourne, disse que a dona do imóvel, Fulana de Tal, pode ter iniciado o fogo para receber o dinheiro do seguro. “Estamos investigando o caso. Mas tudo indica que Fulana tenha uma parcela de culpa”, comentou Osbourne.

O texto jornalístico deve ser vivo. Mesmo assim, o repórter não acusa, deixa os fatos falarem por si mesmos. Ele escreve tudo o que conseguiu levantar e deixa os leitores decidirem o que vão pensar a respeito. Não se pode esquecer de um detalhe: o jornalista não inventa os dados que colheu para escrever o texto.

Evite escrever adjetivos. Exemplo do que não se deve escrever: Um carro velho bateu em uma árvore enorme, que caiu no meio da rua.
Procure especificar o máximo que puder. Exemplo: O BMW 97, vermelho, placas RYU-0007, Sorocaba, bateu em uma árvore de 50 metros, que caiu no meio da rua Randy Rhoads, no Jardim Joe Satriani.

O texto jornalístico deve transmitir o máximo de informação possível. Não deve priorizar o conteúdo estético, como a literatura. Mas isso não significa que deva ser algo automático e chato de ler. Para estruturar uma matéria, baseie-se em modelos de textos de jornais e revistas. Evite utilizar o modelo congelado de cartas comerciais e documentos formais. O jornalista deve ler muito, sempre prestando atenção na informação e na estrutura do texto.

É difícil escrever em poucas páginas como um jornalista age no exercício de sua profissão. Por isso, vai aqui uma lista comentada de livros que podem iniciar, de certa maneira, alguém no universo jornalístico:

- “Manual de Sobrevivência na Selva do Jornalismo”, Luiz Antonio Mello, Casa Jorge Editorial
Explica de maneira leve e simples como é o cotidiano de um jornalista profissional.

- “Novo Manual da Redação da Folha de S. Paulo”
Mais indicado para quem já se iniciou na profissão jornalística. Em todo o caso é bom ler para se conhecer como um jornalista da Folha de S. Paulo deve escrever. Vem com vários anexos, como mapas e tabelas. Possui um planejamento gráfico arrojado.

- “Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo”, Eduardo Martins, Editora Maltese
Voltado para o texto jornalístico. Na parte didática, é mais aprofundado que o manual citado anteriormente. O planejamento gráfico é mais tradicional, o que não significa que o conteúdo seja defasado.

- “Manual de Redação e Estilo de O Globo” - nova edição, revista e ampliada, Luiz Garcia, Editora Globo. É o mais didático de todos. Aborda desde o comportamento do jornalista à maneira como escrever uma matéria. É o mais recomendado para quem está se iniciando no jornalismo e quer deixar o texto “mais afiado”. Conta com apêndices de termos jurídicos e de psicologia e psiquiatria, entre outros.

Lembre-se o Jornalismo não é só livros. Também é experiência e diversão. O jornalista deve sentir e gostar de fazer o que faz, mesmo que isso tenha alguns custos: horário só de entrada, muita correria, tempo limitado para escrever matéria, compromissos desmarcados, etc. Todos gostariam de ser jornalistas, desde que não tivessem que ser acordados no meio da noite para cobrir algo inesperado. Ser jornalista é se empenhar para tentar trazer a melhor matéria do dia. É enxergar o mundo em forma de notícia. É ver o que todos vêem, mas não percebem ou fingem não ver. “Jornalismo é a busca de circunstâncias”, escreveu o professor e jornalista Alberto Dines no livro “O Papel do Jornal - Uma Releitura”, da Summus Editorial.

Deste livro podem ser tirados alguns conselhos passados a Dines pelo jornalista Álvaro Pacheco:

“* Cada frase deve conter uma idéia. Se você tiver idéias definidas, as frases também serão.
* Cada notícia, cada informação, cada matéria, tem palavras-chave. No jornalismo policial, é morte. No esportivo, competição. Mas em matérias menos definidas, cabe ao repórter encontrar o clima e as respectivas palavras-chave que ambientarão as informações nelas contidas.
* Quando alguém morre, o leitor quer saber sua idade e sua doença. Jornalismo é circunstância. Uma entrevista coletiva pode individualizar-se quando o repórter conseguir enxergar todas as circunstâncias que rodeiam a ocasião e as pessoas
* O jornal não acaba, sempre há um outro no dia seguinte. O êxito ou o fracasso de uma edição terminam exatamente na edição posterior.
* Há situações verossímeis que não são verdadeiras. E vice-versa. A tarefa do jornalista é fazer coincidir ou dissociar os dois conceitos.
* Quando você sentir que seu repertório de palavras se exaure e as suas reportagens usam um número limitado de palavras, está na hora de verificar se as suas leituras estão em dia.
* Não queira resolver todos os problemas da humanidade numa matéria só. Escolha apenas um deles.
* Você tem experiência, já viu muita coisa. O leitor, não. Procure comparar, dimensionar e confrontar os fatos. O leitor se situará muito melhor.
* Se você não pode dizer tudo, paciência, diga ao menos alguma coisa.
* Como acabou aquela história do outro dia ? Este é o melhor veio de assuntos.
* Repórter e fotógrafo trabalham juntos usando ferramentas diferentes. Significa que o material fotográfico e o texto devem estar enfocados e angulados na mesma direção. Isto evitará que na notícia do desastre o fotógrafo focalize apenas o sobrevivente, e o repórter, o acidente.
* Se você sabe todos os nomes e qualificações dos personagens de uma história que acompanha há dias, isto não significa que o leitor também saiba. Afinal, ele acompanha dezenas de histórias por dia. Por isto, trate cada informação como se fosse a primeira vez que ela aparece. Sempre há leitores chegando ao acaso neste instante.



* Quem disse que isenção é frieza ? O jornalista pode impregnar-se de emoção e, ao mesmo tempo, oferecer um balanço eqüidistante de um acontecimento.
* Se todos estão olhando para o céu, dê uma olhadinha para o chão. Certamente, você encontrará assuntos que os competidores estão descurando.
* Não se agarre a posições hierárquicas. Jornalismo é uma das poucas atividades em que a criatividade e a inquietação só fazem bem, sobretudo aos chefes.
* Se você se acha o melhor jornalista do país, meu caro, então está na hora de prová-lo.
* Participe, mas alheie-se. Só assim você terá dimensão e isenção.
* O jornalista nunca é pior que um dono de jornal. Um chefe faz uma equipe no seu nível e à sua imagem. Cuidado, pois, quando reclamar de seus comandados.
* A grande regalia do jornalista é poder dispensar as regalias.
* Use roupas que deixem você à vontade. Mas não tanto que incomodem o entrevistado.
* Se você gosta de aparecer deve tornar-se notícia. O bom jornalista trabalha nos bastidores, a função do repórter é buscar fatos. A do chefe, apresentar os fatos. Do diretor, desengajar-se dos fatos.
* Verifique se a opinião da sua mulher não se inseriu na sua matéria ou na atitude do seu jornal. O leitor-padrão-imaginário não dá opinião, ele é apenas um alvo para o qual se destina o processo.
* Parta para uma missão jornalística certo de que sua matéria irá para a primeira página. Se, ao contrário, você tem certeza de que o secretário não irá publicá-la, ela se encaminhará sozinha para a cesta de papéis.
* Para se fazer um bom jornal é preciso material para três. Jornalismo é depuração, síntese.
* Se você quer salvar um jornal, não mexa nele, melhore-o. Não dê sustos no leitor.
* Quem lê jornal não é jornalista.
* Procure fazer o melhor jornal que puder. Se você acha que já fez, está na hora de mudar. Aliás, alguém está pensando nisso.
* Quando o jornalista procura a fonte de notícias é legítimo. Quando esta procura o jornalista, desconfie.
* Quem faz uma cruzada ou uma campanha jornalística é o leitor. Você só notará quando estiver no auge dela.
* Há um quociente de humildade na profissão. A busca do poder, opulência e importância são antagônicos ao espírito jornalístico.
* Não tenha vergonha de pedir para soletrar um nome. Pior é sair publicado nome errado.
* Jornalismo é uma atitude otimista, aberta. Aquele que prejulga ou que se ressente previamente com a informação nunca vai encontrar boa informação. Não se briga com a notícia.
* Ainda que o horário do jornalista seja de 5 ou 8 horas, está em atividade mesmo quando a caminho da redação ou de volta para casa, quando vai ao cinema, assistir a um espetáculo, ou faz uma viagem de recreio.
* A melhor forma de compor um bom título é inventá-lo em voz alta. Melhor ainda é fazê-lo em conjunto com outros jornalistas.
* É certo que você se julgue insubstituível. Mas os outros também são.
* Jornalismo é empenho.
* Se um jornalista a seu lado começar a falar mal dos intelectuais, desconfie desse jornalista.
* Os leigos em geral adorariam ser jornalistas, desde que não precisassem ir à rua catar uma informação, escrevê-la rapidamente, trabalhar à noite, sábados, domingos e feriados.
* Se num grupo de pessoas aparecer um leitor, um assinante, um anunciante e um jornalista criticando seu jornal, é provável que alguma coisa esteja mesmo mal com ele.
* O jornal é um veículo urbano e o jornalista, um estudioso dos problemas da cidade. São a fonte primária de notícias. As transformações da vida urbana afetam diretamente a vida de um jornal. Várias disciplinas que compõem a ‘urbanologia’, a comunicação é uma das mais importantes.
* Uma foto publicada é um investimento em espaço e, portanto, em dinheiro. Foto que nada transmite ao leitor é um prejuízo.
* Tudo o que é difícil para ser composto é difícil para ser lido. Se um elemento gráfico não é funcional, ele é antifuncional. Não há meios-termos.
* Não tem importância o fato de que apenas 20% dos leitores de um jornal leiam os editoriais. Este pequeno contingente, no entanto, é o grupo que multiplicará a opinião para o resto da comunidade.
* Se você quer verificar se o seu jornal é realmente eclético e amplo, faça um gráfico das tendências dos seus colaboradores e articulistas regulares. Divida-os em três grupos (liberais, moderados e conservadores) e, depois, faça as contas.
* Todos os jornais e todos os jornalistas têm acesso às mesmas fontes e aos mesmos fatos. A única coisa que distingue um jornal do outro é a criatividade.
* Promoções e campanhas de publicidade só vingam em veículos sólidos. O melhor anúncio sobre um bom jornal ou revista será a qualidade do exemplar que chegar ao leitor.
* A proporcionalidade entra a quantidade de informações e a de anúncios pouco importa. Um jornal pode ter 60% ou , até, 70% de publicidade. Vale é o conteúdo da informação e a aura de independência que o veículo carrega. O público compreende e apóia um jornal com mais anúncios do que texto, quando percebe que esta é a forma de salvaguardá-lo das pressões.
* Se você quer uma boa referência para a edição de amanhã, veja com atenção a que você publicou hoje. Do desenho e a escolha dos assuntos da primeira página, ao conteúdo e angulação das notícias das páginas internas tudo tem que ser feito em função do que foi publicado hoje nas bancas.
* Se o organograma de uma redação começar a apresentar uma divisão muito nítida entre jornalistas executivos (que comandam) e jornalistas propriamente ditos (que escrevem ou editam), pode ficar certo que esta redação está se burocratizando. Por mais importante que seja a função ocupada pelo jornalista dentro da redação ele não pode deixar de escrever, editar, titular, trabalhar textos, periodicamente ao menos. Este convívio com o ato de escrever faz do jornalista, um jornalista.
* Comunicação é criatividade. Alguém diz alguma coisa quando tem algo novo para dizer.
* Mais vale ser um repórter feliz o resto da vida do que um executivo bem pago e infeliz. O grande jornal é aquele que consegue pagar a um grande repórter o mesmo que paga àquele que ocupa cargo de chefia.
* Gerir é orientar. No verbo gerir há uma noção de movimento. O gerente dever ordenar sem interromper. Numa empresa de comunicação isto significa que o administrador gere sem afetar o ritmo de trabalho. Se num campo de batalha os setores de apoio interrompessem o conflito para organizar as linhas de abastecimento, a própria guerra não faria sentido.
* A palavra que não evocar uma impressão, uma imagem, uma situação, um ruído, uma cor ou mesmo um cheiro, é vazia. Portanto não terá serventia para participar de um texto.
* Nenhum jornal bem escrito é decadente.
* Use palavras semanticamente definidas. Uma palavra de significado impreciso cria situações imprecisas.
* Palavras não se acham facilmente, muito menos as situações ou pensamentos que carregam. Por isto, não se envergonhe de tentar duas, três ou quatro vezes. a redação de um período.
* O número de palavras numa frase é de capital importância para a sua clareza e para manter o interesse do leitor.
* Leitores cultivados aceitam frases de, até 30 palavras. Leitores menos cultos se adaptam melhor a frases de 10. Nos dois casos, porém, o ritmo deve ser regular, a fim de evitar a monotonia.
* Se você acha que aquele período está longo demais, leia-o em voz alta. Se você perceber que está perdendo o fôlego é porque, por ali, está faltando um ponto. Aliás, ler em voz alta um texto sobre o qual se trabalha é útil: percebe-se mais facilmente a repetição de palavras, clareza etc. Só há o inconveniente do vizinho de banca achá-lo maluco ou inconveniente.
* Além da gramática existe a semântica e, agora, readbility isto é, o estudo da funcionalidade das frase. Tudo isto é muito bom desde que o jornalista tenha carinho pelas palavras.
* O amor ao pitoresco pode encobrir o desamor à verdade. Muito jornal e jornalista já se desmoralizaram porque faziam do engraçado, o móvel das suas matérias.
* Jornalismo sério não precisa ser jornalismo monográfico.
* Senhor Diretor: se mandou valorizar exageradamente uma notícia que não tem importância, no máximo está mal informado. Isto se corrige. Mas quando você diz que determinado acontecimento ou aquela pessoa não merecem entrar no noticiário do seu jornal ou revista, então, é o caso de verificar o que se passa em sua atormentada alma.
* E, agora, atenção: se você começou a explicar, na matéria, as dificuldades que teve para apurá-la é certo que está incomodando o leitor. Você é pago para contar os fatos, a despeito de todas as dificuldades e não para narrar os seus desconfortos. Cada profissão tem seus mistérios. Revelá-los a estranhos é tirar parte da mágica de cada métier”.

Nenhum comentário: