sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cara, veja isso!

Quem tiver aptidão com o idioma inglês. Vale a pena ver esse vídeo! Recriação do nascimento de Jesus Cristo!

The Christmas Story from St Paul's on Vimeo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Vampiro, de Charles Baudelaire









“Tu que, como uma punhalada,
Em meu coração penetraste,
Tu que, qual furiosa manada
De Demônios, ardente, ousaste,
De meu espírito humilhado,
Fazer teu leito e possessão
– Infame à qual estou atado
Como o galé ao seu grilhão,
Como ao baralho o jogador,
Como à carniça o parasita,
Como à garrafa o bebedor




– Maldita sejas tu, maldita!
Supliquei ao gládio veloz
Que a liberdade me alcançasse,
E ao veneno, pérfido algoz,
Que a covardia me amparasse.
Ai de mim! com mofa e desdém,
Ambos me disseram então:
'Digno não és de que ninguém
Jamais te arranque à escravidão',
Imbecil! – se de teu retiro
Te libertássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!”

"O Vampiro", do livro "Flores do Mal", de Charles Baudelaire.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Seminario "Processo de Constituição"

Como fazer um seminário? Como apresentar e organizar as idéias para a apresentação em público? Muitas vezes, não temos noção de como começar. Aqui vai um modelo de texto-roteiro de seminário. Não se trata de um padrão universal e único, mas com certeza dá uma boa ajuda.
Seminário: “Processo de Constituição”

TEXTO-ROTEIRO

TEXTO BÁSICO: JAPIASSU, Hilton
“Introdução às Ciências Humanas”
Análise de Epistemologia Histórica,
2ª ed. São Paulo, Letras & Letras, 1994, pp. 9-35


TEXTO DE APOIO: DUROZOI, Gerard e ROUSSEL, André
“Dicionário de Filosofia”
2ª ed. Campinas, Papirus, 1996, p. 80

I. OBJETIVO DO SEMINÁRIO
Mostrar a evolução do conceito de Ciências Humanas ao longo da história e a sua relação com as Ciências Naturais.

II. TEMA DO TEXTO BÁSICO
O autor diz que os modelos propostos, oriundos das Ciências Naturais, são inaquados às Ciências Humanas. Por isto, afirma que nenhuma ciência em particular pode impor um modelo explicativo, de forma absoluta, às Ciências Humanas, nem constituir-se lugar de verificação destas disciplinas.

III. VISÃO DE CONJUNTO DO TEXTO BÁSICO
Hilton Japiassu escreve sobre o processo de constituição do conceito de Ciências Humanas, que está vinculado com a nova imagem do homem (resultado dos acontecimentos sociais), desenrolada a partir do Renascimento. De início, parecem um espectro das Ciências Naturais, que lhes “empresta” modelos de explicação. No entanto, verifica-se que as Ciências Humanas têm um estatuto próprio, diferente até da filosofia, pois tentam inventar um mundo novo, de ação, embora não desvinculado da interpretação.

IV. ESQUEMA GERAL DO TEXTO BÁSICO
Prefácio
Sumário-problema
1. Introdução
2. A fisiologia social de Saint-Simon
3. O positivismo de Comte
4. O positivismo de Durkheim
5. O indivíduo e a sociedade
6. O primado do oculto
7. A recusa da filosofia

V. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEXTO BÁSICO
Introdução: O Renascimento e a visão antropocêntrica de mundo. Necessidade de uma Ciência do Homem.
As Ciências Humanas, agrupadas principalmente em torno da filosofia, se desenvolvem ao longo do tempo e mostram que devem ter modelos próprios, diferenciados das Ciências Naturais.

1. Histórico das Ciências Humanas.
1.1. Novo conceito de homem; dinamismo interno da vida social; validade das instituições; validade de certos fatos sociais (positivismo)
1.2. Surgimento dos ramos das Ciências Humanas
1.3. Recusa à filosofia.

VI. CONCEITOS BÁSICOS
Nova antropologia do Renascimento:
libertária, ainda impregnada pelo dualismo corpo / espírito, abala antiga metafísica do homem. A filosofia toma como base o novo espírito do homem.
Leis: preceitos de ordem geral e impostos à observância de todos, referentes à constatação de fenômenos naturais ou sociais.
Positivismo: há condições de inteligibilidade próprias das Ciências Humanas, Dilthey então diz que é preciso descobrir sua contribuição positiva, para melhor compreensão dos homens e das coisas.
Ser de natureza: como ser vivo, homem é regido por leis biológicas.
Ser de cultura: como ser falante e edificador de uma civilização, introduz a cultura.
Antropologia: estudo das propriedades gerais e das leis da vida social e da cultura.
Descartes, Hegel e Kant: o ser da consciência sempre se manifesta como a norma e a verdade de ser.
Evolucionismo, marxismo e psicanálise: sujeito cognoscente é descentrado de si mesmo.
Fenômeno: atualidade dada à observação empírica efetiva, manifestando-se numa constatação.
Filosofia social: termo de Saint-Simon, criador da expressão “Ciência do Homem”. A unidade desta ciência é fornecida pelas energias de uma sociedade levada a se entender.
Sociologia: Comte converte a “física social” em “sociologia”, estudo dos fenômenos sociais como conjunto de efeitos naturais submetidos a leis, à maneira dos fenômenos físicos e biológicos.
Marcha para a unidade: Durkheim acredita que a humanidade ascende de idade em idade, rumo à unidade, basta criar uma moral da solidariedade.
Indivíduo e sociedade: foco no indivíduo, na sociedade, ou em ambos?
Inconsciente: natureza íntima tão desconhecida quanto a do mundo exterior; problema da mentira da consciência.
Eurocentrismo: Ciências Humanas surgiram no século XIX na Europa, que influenciou com seus modelos teóricos o resto do mundo.

VII. ROTEIRO DE LEITURA DO TEXTO BÁSICO
a-) Uma nova concepção de homem, no Renascimento, levanta um novo prisma sobre a problemática do conhecimento.
b-) Os modelos das Ciências Naturais ainda servem como paradigma para explicar os novos campos de conhecimento.
c-) Tentativa de superar a dependência dos modelos das Ciências Naturais.
d-) O positivismo e a retomada dos modelos das Ciências Naturais.
e-) Reconhecimento das Ciências Humanas e sua ramificação em decorrência das profundas transformações sociais, econômicas e políticas, da Europa do século XIX.
f-) As Ciências Humanas, calcadas na historicidade, distanciam-se da filosofia, por serem mais observadoras e “mais científicas” e tentarem criar um mundo novo: o mundo da ação.

VIII. ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
JAPIASSU, Hilton. Introdução às ciências humanas. Análise de epistemologia histórica. 2ª ed. São Paulo, Letras & Letras, 1994, pp. 9-28.
DUROZOI, Gerard e ROUSSEL, André. Dicionário de Filosofia. 2ª ed. Campinas, Papirus, 1996, p. 80.

sábado, 6 de novembro de 2010

Rocky (Remi Gaillard)

Vale a pena conferir esse vídeo do francês Remi Gaillard. Ao som de "Eye of the tiger", da banda Survivor, faz uma sátira muito engraçada aos treinos do boxeador Rocky Balboa, vivido em cinco filmes por Sylvester Stallone. As situações são inusitadas: no supermercado, no pedágio, nas praças públicas, nos restaurantes.



Creio que é uma das coisas mais hilariantes que já vi na minha vida. Mas dá até vontade de fazer um treinamento a la Remi Gaillard, só para dar umas boas risadas. No entanto, tome cuidado, ein. Você estará sujeito a sérias lesões corporais, no mínimo...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Das Beste - Silbermond


Sem querer ser piegas, ou coisa do tipo. "Das Beste", da banda alemã Silbermond (Lua de Prata), é uma das músicas mais legais que já ouvi na vida. A voz e a beleza da vocalista Stephie Kloβ são contagiantes. Trata-se de um pop sem ser enjoado. Pena que no Brasil estamos mais acostumados com músicas com idioma inglês. Deixamos de apreciar músicas maravilhosas de outros países, que muitas vezes são encaradas com preconceito, devido ao idioma ser outro que não o inglês. Mas isso pode mudar!

Confira o site da banda: http://www.silbermond.de/



Ich habe einen Schatz gefunden
und er trägt deinen Namen
so wunderschön und wertvoll,
von keinem Geld der Welt zu bezahlen


Du schläfst neben mir ein,
ich könnt' dich die ganze Nacht betrachten
Seh'n wie du schläfst, hör'n wie du atmest,
bis wir am morgen erwachen


Du hast es wieder einmal geschafft,
mir den Atem zu rauben
Wenn du neben mir liegst,
dann kann ich es kaum glauben,
dass jemand wie ich, sowas Schönes wie dich, verdient hat


Refrain:
Du bist das Beste was mir je passiert ist
es tut so gut wie du mich liebst
Vergess' den Rest der Welt,
wenn du bei mir bist


Du bist das Beste was mir je passiert ist
es tut so gut wie du mich liebst
ich sag's dir viel zu selten,
es ist schön, dass es dich gibt


Strophe:
Dein Lachen macht süchtig,
fast so als wär' es nicht von dieser Erde
auch wenn deine Nähe Gift wär',
ich würd bei dir sein,
solange bis ich sterbe


Dein Verlassen würde Welten zerstör'n,
doch daran will ich nicht denken
Viel zu schön ist es mit dir,
wenn wir uns gegenseitig Liebe schenken


Betank mich mit Kraft
Nimm mir Zweifel von den Augen
Erzähl' mir 1.000 Lügen, ich würd' sie dir alle glauben
Doch ein Zweifel bleibt,
dass ich, jemand wie dich, verdient hab'





Refrain:
Du bist das Beste was mir je passiert ist
es tut so gut wie du mich liebst
Vergess' den Rest der Welt,
wenn du bei mir bist


Du bist das Beste was mir je passiert ist
es tut so gut wie du mich liebst
ich sag's dir viel zu selten
es ist schön, dass es dich gibt'


Strophe:
Wenn sich mein Leben überschlägt,
bist du die Ruhe und die Zuflucht
Weil alles was du mir gibst,
einfach so unenendlich gut tut
Wenn ich rastlos bin, bist du die Reise ohne Ende
deshalb lege ich meine kleine, große Welt in deine schützenden Hände


Du bist das Beste was mir je passiert ist
es tut so gut wie du mich liebst
Vergess' den Rest der Welt,
wenn du bei mir bist


Du bist das Beste was mir je passiert ist
es tut so gut wie du mich liebst
Ich sag's dir viel zu selten,
es ist schön, dass es dich gibt'


Ich sag's dir viel zu selten, es ist schön, dass es dich gibt



Tradução
Encontrei um tesouro
E ele tem o seu nome
Tão bonito e mais valioso
Que todo o dinheiro do mundo
Você adormece ao meu lado
Posso ficar a noite toda te olhando
Te ver dormir, te ouvir respirar
Até que acordemos de manhã
Você conseguiu de novo tirar meu fôlego
Quando você se deita a meu lado
Eu mal posso acreditar
Que alguém como eu
Mereça alguém tão bonito como você





Refrão:
Você é a melhor coisa que já me aconteceu
Me faz tão bem a maneira com que você me ama
Eu esqueço o resto do mundo
Quando você está comigo
Você é a melhor coisa que já me aconteceu
Me faz tão bem a maneira com que você me ama
Eu te digo muito pouco
Que é maravilhoso você existir
Estrofe:
O seu sorriso vicia
Como se não fosse dessa Terra
Mesmo se ficar perto de você
Fosse um veneno
Eu ficaria ao seu lado até morrer
A sua partida destruiria mundos
Mas eu não quero pensar nisso
É lindo demais estar com você
Quando nos oferecemos o nosso amor
Me fortaleça
Tire as dúvidas de meus olhos
Conte-me mil mentiras, eu acreditaria em todas
Ainda assim permanece uma dúvida
A de que eu mereça uma pessoa como você
Refrão:
Você é a melhor coisa que já me aconteceu
Me faz tão bem a maneira com que você me ama
Eu esqueço o resto do mundo
Quando você está comigo
Você é a melhor coisa que já me aconteceu
Me faz tão bem a maneira com que você me ama
Eu te digo muito pouco
Que é maravilhoso você existir
Quando minha vida fica de pernas pro ar
Você é minha paz e refúgio
Porque tudo o que você me dá
Faz eu me sentir infinitamente bem
Quando estou inquieta
Você é a viagem sem fim e por isso
Eu ponho este meu pequeno grande mundo nas suas mãos protetoras





Você é a melhor coisa que já me aconteceu
Me faz tão bem a maneira com que você me ama
Eu esqueço o resto do mundo
Quando você está comigo
Você é a melhor coisa que já me aconteceu
Me faz tão bem a maneira com que você me ama
Eu te digo muito pouco
Que é maravilhoso você existir
Eu te digo muito pouco que é maravilhoso você existir

Remédio de alguém


Desatento de tudo, a atenção é preciosa como um das coisas mais ricas do mundo.
Ei tu? Onde está o meu amor que me roubaste e vendeste para outrem?
Não tens vergonha, moça? Isso não se faz, nem para um padre, nem para um rapaz!
Sentas sempre ao meu lado e aí, vêm a formigar as pernas e os braços, os lábios mordiscam silenciosos um rabisco de um beijo, complementado por um abraço.
Porém, o sujeito ao meu lado diz asneiras que me deixam desconcertado.
Onde já se viu falar tanta baixaria perto da minha donzela?
Que coisa, que infâmia, que falta de senso na cabeça oca desta ariranha!
Não mais permitirei esta ofensa, pois minha dama, ao meu lado, não merece ouvir tanta desconsideração. Mundo moderno, costumes pervertidos!
O que me diriam, então, deste voyeur intrometido?
Sai daqui, seu sacripanta, vai logo, antes que meu amor me espanta!
E tu, que me apoderaste por completo, onde está a tua deixa?
Fazes isto tudo por esporte ou tenho chance de me dar bem, sem nenhuma queixa?
Teu olhar, vago e morno, como as noites de primavera em seu contorno, que pelo simples exalar do orvalho me deixariam de todo extasiado.



Queria apenas que me desses uma resposta, bem certeira, bem criteriosa.
Que tipo de coisa é essa que a gente sente, do interior para o exterior, que faz a gente dar risada por qualquer coisa ou, ainda, sofrer com indiferença?
Este é um tipo de doença da qual não gostaria nunca de ser salvo.
Pois se o meu olhar de peixe morto, meu queixo caído, o tremor repentino do meu corpo confirmam o que vem de dentro, o diagnóstico é simples, puro e fidedigno, não se trata de cólera, malária ou febre morbo. É paixão aguda, com amor crônico, então, está na hora de arranjar o remédio, mais que depressa, já que a vida prega peças.
Os doutores, diplomados com roupa branca e tudo, dizem um monte de coisas, mas sei que para me curar, preciso de coisas simples: um beijo, um abraço e um calor.
Estas três coisas se resumem numa outra ainda mais feliz, o teu amor.
Enquanto estiver longe de ti e da tua chama, ficarei doente, fadado a esmorecer, como um moribundo, cruzando as terras deste e do outro mundo.
Por isso, peço a ti tua presença, mais que tua bênção, para que possamos aplacar juntos esta doença, da qual, se eu for feliz, padeces dos mesmos sintomas.
E quando nos beijarmos a cura virá repentinamente, mas nossa saúde ficará viciada no puro e imaculado que é o nosso amor! Este é o nosso remédio de alguém, que cura, sem enjoar, graças a Deus, amém!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Resenha do livro História sem fim





Quem se lembra do filme "A história sem fim"? Eu assisti quando era criança. Não sabia que tinha um livro que deu origem ao filme. É sobre esse livro que minha amiga Georgiana Calimeris escreveu uma resenha, publicada na Revista Eletrônica de Psicologia do Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB).






Confira o texto completo:
http://www.iesb.br/repiesb/filmes_e_livros/2010_2/fl1_v2_n4_out_2010.htm

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Anúncio classificado


Decidi tornar pública a minha procura, pois há de muito que sua falta me desalenta.
Antes, batia de porta em porta, estorvando o sono e a paciência dos outros:
“Ô, de casa, alguém aí tem uma musa para mim.”
Quase parei na cadeia, com passagem pelo hospício, embora não tenha feito nenhum
Malefício. Mas uma ou outra alma caridosa ainda me atendia: “Como é tal moça que o
Senhor procura.” Minha resposta era curta e absurda: “Não sei. Se soubesse como ela
É, não lhe estaria procurando.”
Cheio de bolha nos pés e com as orelhas vermelhas de tapões e xingamentos, tomei
Uma medida prática. Fui ao jornal e decidi fazer um anúncio classificado:
Procuro uma musa que possa colorir meus sonhos e fique ao meu lado nas noites
Mais frias de verão.
Procuro uma musa que me faça escrever letras de amor, contando a nossa odisséia
De vitória sobre esta corja de burros.
Procuro uma musa alegre, de olhar sincero a quem eu possa amar, como nunca fiz
Antes.
Na porta do jornal, o texto estava decorado na cabeça. Tinha que resumir um
Pouquinho porque o meu bolso não podia com tantas letrinhas de amor.
Então, assim ficou:
Procuro uma musa para sempre e eternamente, que me inspire a todo instante !
Ainda meio ressabiado, virei meia-volta e dei um giro pela praça.
Perguntei a uma moça o que ela achava sobre o que tinha escrito.
“Se você me pagar, posso fazer tudo isso.”
Agradeci, mas recusei. Afinal, amor pago é mal remunerado.
Pedi opinião ao menino sujo e extrovertido. Ele disse:
“O que é musa, moço ? É de comer.”
Dei-lhe umas moedas e fui procurar outra opinião.
Um sujeito com nariz em pé, com bloco de papel na mão e caneta no bolso da camisa,
Que se dizia jornalista, mesmo sem ter capacidade para isso, falou:
“Um texto jornalístico não deve terminar com sinal de exclamação !”
“Eu sei, bocó. Mas isto é um anúncio classificado.”



E continuei a perambular. Para esses tipos, José Saramago é um vinho tinto português,
Muito saboroso, por sinal. Oras bolas; minhas bolas, carambolas !
Parei de coletar palpites. Mesmo porque o “eu acho” dos outros nunca é bom para a
Gente, ainda mais quando proferido por incoerentes.
Passei pela catedral, falando em voz alta:
Procuro uma musa ! Procuro uma musa que me seduza !
O padre celebrava a missa. Empolgado por esse amor oculto, adentrei o recinto e
Gritei como se fosse soltar meus pulmões:
Ei, alguém aí dentro tem uma musa ! Procuro uma musa !
As carolas ficaram brancas de susto e silêncio e o padre liderou o coral: Blasfêmia.
Saí e corri, tropecei e caí. Não estava nem aí.
Mesmo sujo e com os joelhos ralados, entrei no jornal.
Procurei nos bolsos, mas só encontrei os buracos e as merrecas com que pagaria
Aquele anúncio classificado. Tinha perdido o papel de ode à musa.
Pasmado com um nó no coração, segurei os cabelos, como se fosse arrancá-los.
Recuperei a calma e entrei de novo no jornal, fui ao balcão embaixo da placa em que
Estava escrito “Classificados”. Tudo bonito, bem informatizado.
“Queria fazer um anúncio classificado.”
“Qual é a mensagem e qual seção em que vai ficar ?”
“Moça, você tem namorado ?”
“Não, por que o senhor pergunta ?”
“Por nada, moça. Por nada.”
O gordo que estava atrás de mim, na fila, estava impaciente e me deu um ultimato.
Contei que ainda não tinha feito o anúncio classificado.
“Vou pensar e já volto”, falei e voltei para o fim da fila, que estava grande.
Lá pelo meio da fila, surgiu outra idéia, que foi amadurecendo durante o desenrolar
Dos minutos. Com as roupas sujas e o fedor da procura, os meus sucessores da fila
Desistiram do que vieram fazer. Assim, eu era sempre o último da fila.
A moça do balcão percebeu e ficou diferente. Coitada, pensei. Deve estar brava
Comigo. Chegou a minha vez novamente, indaguei-lhe o nome.
“Musa”, respondeu-me. Naquele exato instante, encontrei o pedaço de papel com a
Mensagem. Rasguei-o e joguei-o disfarçadamente.
A musa estava ali e não havia mais motivo para fazer aquele anúncio classificado.
“O que você vai fazer hoje à noite, depois do expediente ?”

domingo, 10 de outubro de 2010

Direito Constitucional aplicado à profissão: direitos fundamentais como base da ordem normativa de condutas profissionais e dos códigos de ética


Este texto versa de maneira sucinta sobre a utilização do Direito Constitucional, principalmente no tocante aos Direitos Fundamentais, no contexto empresarial e a relação da ordem jurídica com a deontologia profissional. Não pretendemos versar profundamente sobre um assunto extremamente vasto e complexo, mas tão-somente apresentar os principais conceitos e tentar, de certa forma, associá-los ao cotidiano profissional empresarial. Em função de tal intento, não temos ímpetos de inovar doutrinariamente com relação ao tema proposto, apenas introduzir os temas e, porventura, despertar a curiosidade para uma leitura e pesquisa mais profundas a respeito. Para fins didáticos, este texto foi dividido em dois capítulos.



Em "I – Os Direitos Fundamentais e o Cotidiano Profissional", introduziremos o conceito de ordem jurídica e de norma fundamental, que deve ser seguida em todas as instâncias deontológicas, sejam a partir de atos legais ou infra-legais, resguardando e implementando os Direitos Fundamentais, também objeto deste capítulo.
Em "II – Deontologia Profissional e Códigos de Ética", tentaremos conectar os princípios constitucionais e os dispositivos legais como diretrizes para a elaboração de normas de conduta para as empresas, além de expor um arcabouço teórico sobre o assunto.


Leia o texto completo: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6913


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Assédio moral nas organizações


Prof. Ms. Roger Moko Yabiku

Assédio moral é um assunto recente no Brasil. A legislação não trata especificamente a respeito do assunto. Muitas vezes, é identificado, inclusive, com danos morais. A Constituição da República Federativa do Brasil atenta para a preservação da integridade humana, tanto no aspecto físico quanto no psicológico. Via de regra, a integridade física é preservada ou recompensada pelos adicionais de insalubridade e periculosidade, pelas indenizações por horas extras nos salários, ou ainda pelo gozo do final de semana remunerado e pelas férias. No entanto, quase que é comum se passar desapercebida a questão psicológica, o moral.
Pela falta de materialidade, ou por estar escondida na psique humana, a ofensa moral muitas vezes é jogada para “debaixo do tapete”, como se isso fosse algo a não ser mostrado. Porém, se sabe que o sofrimento e a ofensa moral causam cicatrizes internas que, diversas vezes, são difíceis de serem curadas.
Esse tipo de ataque à dignidade humana não é novo, é antigo, porém, ocorre, atualmente, uma banalização daqueles que não têm poder de fogo suficiente para se defender, principalmente, no ambiente corporativo.
Assédio moral, ensina Elisete Passos em “Ética nas organizações” (p. 127), é a conduta repetida ou sistematizada que atenta contra a dignidade ou integridade psíquica ou física da pessoa, colocando em risco seu emprego e desestabilizando o ambiente de trabalho.
Organizações preocupam-se mais como lucro econômico, em vez do crescimento e bem estar das pessoas. Nessa espiral, os empregados começam a acreditar que para manter seu emprego devem ser competentes tecnicamente, pontuais, polivalentes, produtivos e submissos, comenta Elisete Passos.
Para preservar seus empregos, as pessoas se submetem a humilhações, inferiorizações, ironias, medo e xingamentos. Há também perseguições individuais. Os perseguidos, muitas vezes, são deixados de lado pelos colegas, que também ficam com medo de serem perseguidos, ou se juntam para fazer mais perseguições.
As ofensas podem ser explícitas ou sutis, sempre no intuito de fazer com que o indivíduo perca a auto-estima, desequilibre-se e se destrua. É uma forma de quebrar o indivíduo e fazê-lo aceitar as normas do grupo. Trata-se de um processo demorado e sutil que gera sofrimento psicológico.
No entanto, há de se verificar que a deterioração das condições de trabalho e a carga de trabalho, por si mesmas, não constituem causas de assédio moral. Exceto quando são colocadas propositalmente no intuito de causar sofrimento psicológico e humilhar intencionalmente.

Tipos de assédio moral

Há dois tipos de assédio moral: a-) assédio moral horizontal; b-) assédio moral vertical. “Assédio vertical a princípio é mais prejudicial do que o horizontal, pois emana de alguém que possui autoridade, como um chefe, e suas considerações agridem mais profundamente e isolam mais, pois a pessoa agredida tem menos coragem para reagir. Os motivos que levam a esse tipo de agressão são, dentre outros, o autoritarismo, o abuso de poder, a insegurança e a necessidade de autovalorização do agressor; também ele pode ter como meta fazer a pessoa pedir dispensa do trabalho e assim a empresa livrar-se de pagar os direitos trabalhistas decorrentes de uma demissão provocada por ela. Em todas as situações, ele espalha o medo, a humilhação e o terror, exigindo obediência cega a suas ordens e perseguindo aqueles que não acataram suas determinações ou não atingiram as metas estabelecidas. Há uma forte relação entre assédio moral, o autoritarismo e o desrespeito aos direitos dos empregados. O assédio horizontal é aquele praticado por um colega sobre o outro; também é nocivo e destruidor do indivíduo. Normalmente, ocorre quando existe disputa de poder, como, por exemplo, de um cargo; também quando se quer subir no conceito do chefe ou do patrão. Em situações assim, é possível que um empregado sonegue informações sobre um procedimento de trabalho a outro empregado, para depois apontá-lo como lento, desatento e descomprometido com a empresa”, explica Elisete Passos (p. 130).
Ainda com relação ao assédio moral vertical, o mesmo pode ser de baixo para cima, ou seja, dos empregados sobre o chefe. O grupo não simpatizou com o novo chefe, então, realiza uma série de “agressões”, desde a não obediência até a má vontade em trabalhar, por exemplo. Outro caso semelhante é o do colega de trabalho que assumiu o cargo de chefia, fazendo com que os invejosos não aceitem essa posição.
Há também os assédios morais mistos, nos quais os assediadores são tanto os superiores quanto os colegas. Os superiores podem efetivamente participar do assédio, ou, ainda, podem ser coniventes com alguns tipos de condutas, e omissos não proteção ao assediado.

Métodos de assédio moral



O assédio moral encontra campo fértil diante da desumanidade administrativa. Quanto aos métodos de colocá-lo em prática: a-) deteriorização proposital das condições de trabalho, como a falta de infra-estrutura adequada ou de comunicação para que o empregado compreenda o que deve ser feito, de modo que este não consiga realizar a tarefa, ou ainda crie um outro jeito de realizá-la; b-) crítica destrutiva, geralmente em público, colocando em xeque a qualidade e a competência do empregado; c-) isolamento e falta de inclusão da pessoa nas conversas e decisões.
Elisete Passos (p. 132) diz que o assédio é ato discriminador que pode ter como origem o medo de ser agredido, de ser prejudicado, de não se aceitar o diferente e que, por isso, se agride primeiro: “O assédio moral tem, portanto, um motivo sutil: inveja, medo, intolerância, preconceito, insegurança; em todos, o pano de fundo é não conseguir aceitar as particularidades da pessoa. Assim, os principais motivos do assédio podem ser deduzidos a partir das pessoas que são as vítimas mais frequentes: mulheres, homossexuais, pessoas mais velhas, sindicalistas, pessoas combativas.”
O agressor é manipulador, com aparência de auto-suficiente, bem-sucedida e digna de ser invejada. Muitas vezes, induz outras pessoas a ficarem contra o assediado. O setor terciário, comenta Elisete Passos (p. 134), é o mais afeito ao assédio moral: “No que se refere aos locais de trabalho onde o assédio é mais propício, destacam-se os ambientes que não possuem critérios claros de avaliação da qualidade do trabalho; empresas onde não existe diálogo e cada um vê o outro como seu opositor, gerando um clima de instabilidade e de insegurança; empresas desorganizadas onde as tarefas não estão claramente distribuídas, facilitando o jogo de empurra e a culpabilização de um e de outro; empresas muito hierarquizadas, e locais onde se trabalha sob pressão; também empresas menores e desorganizadas são espaços mais apropriados do que as grandes e bem organizadas.”



Consequências do assédio moral

A prática do assédio moral de certa forma significa que houve uma certa tolerância quanto com relação à falta de respeito e de conduta moral adequada no trabalho. E pior com a desvalorização da pessoa humana. Isso causa problemas relacionados à saúde mental das pessoas, levando-as a esconder a dor, ficarem mais caladas, usar mais bebidas alcoólicas ou entorpecentes, uma tristeza profunda (depressão). E, no fim, podem até deixar o emprego. Devido à vergonha e à humilhação, muitos preferem não denunciar o problema e se mantêm calados.
Essa depressão não é pura frescura ou coisa de gente rica e desocupada, como muitos costumam falar por aí. “As consequências sociais são grandes, pois, como demonstrou pesquisa recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a depressão será um dos principais fatores de mortes nas próximas décadas. E sabe-se que o assédio pode começar tendo como consequência o estresse e o nervosismo e avançar para a depressão”, alerta Elisete Passos (p. 136).


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Máquina (tecnologia) versus humanismo


Prof. Ms. Roger Moko Yabiku

Com a revolução científica do século XVII, a filosofia começou a decair como conhecimento preponderante. Dela, começaram a se desvincular conhecimentos como a física, que tinha aplicações de ordem mais prática e econômica, que o filosofar. Essas ciências autônomas construíram estatutos próprios, muitas vezes, explicados pela linguagem lógico-matemática.
Esse modelo de conhecimento das ciências naturais, mais exato, mais preciso e mais afeito aos ímpetos econômicos da burguesia nascente predominou. O mundo passou a ser como um imenso mecanismo que poderia ser explicado, controlado e modificado pela ciência, guiada pela razão humana. Um extremo desse tipo de pensamento foi a doutrina positivista, inaugurada por Augusto Comte, que transpôs o modelo de constituição das ciências naturais para as ciências humanas.
Comte dizia que as ciências humanas careciam dos pressupostos científicos típicos das ciências naturais. Daí, delimitou o conhecimento, dizendo que só era válido aquilo que se podia conhecer, e não aquilo que só se podia conjecturar.
Houve, então, a transposição do modelo das ciências naturais para as ciências humanas, na tentativa de tornar estas mais afeitas a esse novo tipo de conhecimento.
Os números, talvez o elemento mais básico das ciências naturais, se tornaram os novos gurus das análises e condutas, justamente por terem essa pretensa exatidão. A ética e a filosofia eram demasiadamente teóricas para se encaixar no sistema de produção e de serviços.
O pensamento lógico-matemático ganhou primazia sobre o pensamento ético-filosófico. Com isso, vem o desencanto com o mundo. Obviamente, a razão lógico-matemática tornou o mundo mais rico, mais confortável e economicamente mais viável, pois visa produzir coisas, ou seja, tratar tudo como objeto a ser manipulado. Porém, essa mesma razão lógico-matemática trouxe competição econômica acirrada, desigualdade social e duas grandes guerras em escala global.



Pensa-se mais em termos de números, em vez de princípios e consequências ético-filosóficas. Decisões são baseadas muitas vezes em números, estatísticas, cálculos. E os números não mentem, jamais. Porém, uma coisa é analisar os números, estatísticas e cálculos dentro de um só ambiente, isolado de todo o contexto social.
O mundo construído pela razão lógico-matemática é frio, tecnológico, mecânico e automatizado. “Lidamos com a natureza de forma mecanicista, buscando dominá-la e não estabelecer com ela um diálogo e uma relação de respeito e cumplicidade. Com os pobres agimos de forma caritativa ou filantrópica, ao invés de investir em ações que possam reverter em qualidade de vida, justiça social e dignidade humana. A produção baseia-se em um sistema econômico que não tem levado em conta as pessoas e não se orienta por valores morais de respeito, dignidade e justiça social”, avalia Elisete Passos, no livro “Ética nas organizações”.
Se de um lado há progresso científico e tecnológico, de outro, houve baixo crescimento pessoal e interpessoal. Isso faz com que as pessoas fiquem cada vez mais longes umas das outras, impedindo o seu auto-conhecimento, de modo que a máquina e o próprio sistema escravizem o ser humano.
O discurso científico se diz neutro, porém, a tecnologia não é utilizada de modo neutro, está a serviço de interesses sociais e econômicos. E, ainda, dita o ritmo dos ambientes laborais.
Os seres humanos parecem cada vez mais submissos à indústria cultural, fomentada pela mídia, que cria necessidades artificiais, modismos e alienação.
Há, contudo, uma luz no fim do túnel. As empresas podem se humanizar, no sentido de se colocar o ser humano em primeiro plano, e não ser utilizado como meio. A emancipação humana é o mais importante. O ser humano precisa ser compreendido como ser material, que precisa, num primeiro momento, sobreviver (se alimentar, vestir, morar) e se construir (viver a cultura).
O ser humano, então, deve ser encarado como fim, como alguém que precisa se realizar, sendo livre de fato, no seu pensamento. E, sobretudo, que conquista a sua liberdade. E que com isso seja livre em sua plenitude, pois se converte num ser que aprende a aprender a todo momento.



O indivíduo que aprende a aprender em todos os momentos enfrenta as verdades pré-estabelecidas e também os preconceitos. “A consciência crítica é uma ferramenta poderosa contra a racionalização da irracionalidade efetuada pela sociedade industrial, capaz de apresentar o resíduo como necessidade e a destruição como construção. Ela faz o processo de alienação que faz as pessoas se reconhecerem como mercadorias, nos bens móveis e imóveis. Do mesmo modo, reduz a autonomia do trabalhador, fazendo com que ele siga um processo de trabalho até mesmo quando se sente ameaçado por ele. Também constrói ideologicamente uma idéia de progresso que não está voltada para uma melhor qualidade de vida, porque se priorizam as formas de produção e não o trabalho criativo e alegre, nem proporciona mais tempo para os seres humanos gastarem com a cultura, o lazer, o descanso e suas necessidades vitais”, salienta Elisete Passos (p. 92).
E pessoas que aprendem a aprender e se tornam autônomas, sabendo respeitar umas as outras, seja em termos de ambiente de trabalho ou, também, de cidadania não é algo que o sistema encara como, necessariamente, benvindo. Para progredir é preciso, contudo, coragem. Quem está disposto a pagar este preço?

domingo, 12 de setembro de 2010

As morais empresariais


PROF. MS. ROGER MOKO YABIKU


Para a doutrina liberal, os Estados nacionais devem interferir cada vez menos nas economias, deixando o mercado fluir, segundo os ditames de uma mão invisível, que tem sua lógica própria. No entanto, a liberdade econômica sem freios passa por cima de quem estiver em seu caminho, mesmo que isso signifique atropelar direitos das pessoas, principalmente as em menos condições sócio-econômicas. Engraçado dizer que um dos pais do liberalismo e um dos fundadores da economia moderna, Adam Smith, era professor de filosofia moral, ou seja, de ética, explica Amartya Sen, no livro “Sobre ética e economia”.
A economia moderna começou, então, como uma parte da filosofia moral. E, depois, com a assunção da ciência como conhecimento mais importante, em detrimento da filosofia, a economia alinhou-se mais à engenharia, aos cálculos, rumo à uma pretensa neutralidade, desvinculando-se da filosofia moral.
Assim, analisam-se os números, de maneira “racional e fria”, segundo a lógica e o modelo científico matemático, em vez de se levar em consideração as repercussões das decisões. O “filosofar” ético não é necessário. Aliás, é empecilho ao ímpeto capitalista.
Nesse mar de voracidade do capitalismo, se inserem como alguns dos principais agentes, as empresas. Não há como se falar em capitalismo contemporâneo, sem se falar em empresas. Mercados abertos e regimes liberais dão muita força a quem sabe se organizar. Grandes empresas sabem fazer isso, pois sabem do poder que têm com a acumulação e concentração de capital, formando cartéis, ou megacorporações por meio de fusões, incorporações e aquisições, alerta o sociólogo Robert S. Srour, em “Ética empresarial – a gestão da reputação”.
As novas tecnologias diminuem os custos e deveriam promover mais conforto e distribuição de renda. Mas parece que ocorre o efeito contrário. A competição é cada vez mais feroz e as empresas parecem fazer diferenciações entre os grupos de pessoas. Há grupos que devem ser agraciados, enquanto outros podem ser manipulados, pisados. Nesse cenário, Srour destaca a existência de duas morais empresariais: a moral da parcialidade e moral da parceria.

Dois tipos de tratamento



O grupo de pessoas que tem tratamento privilegiado, diz Srour, são os acionistas (por motivos óbvios), os clientes, os gestores e os trabalhadores qualificados. Já o grupo de pessoas que pode ser manipulado é composto de fornecedores, sindicatos, prestadores de serviços, comunidades locais, mídia, credores, sindicatos, governo e concorrentes.
O primeiro grupo de pessoas não convém manipular, pois pode colocar em risco os negócios. Com o segundo grupo é diferente. As diversas pessoas que compõem o segundo grupo podem ser jogadas umas contra as outras, conforme as conveniências da empresa.
Com o primeiro grupo, então, há um tratamento “decente”, idôneo, segundo algum código moral, mas também devido a uma estratégia ou cálculo de custo-benefício. No segundo grupo, se tira proveito da fraca articulação dessas pessoas, para se tirar o máximo de vantagens, salienta Srour. Aqui, o oportunismo, com contornos capitalistas e corporativistas, se converte na moral da parcialidade.


Moral da parcialidade




O tratamento desigual dos dois grupos de pessoas promove uma seleção de pessoas “convenientes” e “não convenientes”. Trata-se da moral da parcialidade, na qual se diz que um pouco de desonestidade ou cinismo é necessário para se vencer no capitalismo. A fórmula, ensina Srour, seria basicamente a do “rouba, mas faz”. Ou seja, justifica o mau caráter que consegue resultados ao mesmo tempo em que diz que todas autoridades de governo são decrépitas.
É um discurso sigiloso, que não se fala em público, mas se mantém aos círculos reservados, os de “confiança”. Valoriza demais os que “tem peito” ou “prática”, contra os que tem muitos “pudores” ou são muito “teóricos”. E espelha a famosa frase de Artur Bernardes, eternizada por Getúlio Vargas: “Aos amigos tudo, para os inimigos nada, para os indiferentes a lei.”
Para a moral da parcialidade, é preciso senso de oportunismo para avançar nas linhas inimigas e conseguir resultados. Não bastaria a capacidade empresarial, mas a “malandragem”. Alguns exemplos apontados por Srour (p. 280-281): “Tal empresário sonega sim, mas gera um bocado de empregos e já paga impostos em demasia – por que culpá-lo? Tal comprador recebeu bola de um fornecedor, mas seguiu a praxe do mercado e acabou adquirindo produtos a preços razoavelmente competitivos – para que abrir mão dele? Tal empregado usou o carro e o telefone da empresa em benefício próprio, mas já deu tantos lucros que as despesas podem ficar por conta da intermediação – por que não? Tal gerente não é competente e acaba fazendo configuração, mas é parente de um cliente estratégico ou foi indicado por um amigo que transita bem nos círculos políticos – será que não vale a pena ficar com ele? Tal fiscal é um cafajeste que não sai do pé enquanto não ‘receber o dele’ para regularizar a papelada – o que custa dar-lhe uma propina para ter sossego? Tal representante de vendas passa quase duas horas por dia cuidando de seus investimentos na Internet, mas é um dos mais produtivos do setor – para que importuná-lo?”
Um pouco de jeitinhos é justificável, por que o sistema é falho e, também, ajudam a corrigi-lo aos poucos. Essa é a justificativa da moral da parcialidade, comenta Srour. E o negócio dos negócios é fazer negócios, frase da qual se depreende duas leituras, ensina Srour (p. 283): “1. o mito da amoralidade dos negócios, que pressupõe sua neutralidade – os negócios nada teriam a ver com a vida comum e as regras que vigoram em ambos os contextos seriam diferentes por sua própria natureza; 2. O mito da imoralidade dos negócios, que os qualifica como ‘sujos’ e sentencia que para ganhar dinheiro é preciso sujar as mãos.”
Assim, de acordo com a assertiva da amoralidade, os negócios têm regras próprias. Na da imoralidade, dinheiro e negócios são sujos por natureza.


Moral da parceria

Segundo Srour, a partir da década de 1990, a mentalidade começou a mudar no Brasil, também no aspecto empresarial, com enaltecimento do mérito, do trabalho, do profissionalismo e da idoneidade. Esses traços, comenta Srour (p. 294), são compostos de: “1. Senso de responsabilidade; 2. Competência técnica para agregar valor; 3. Anseio por realização pessoal; 4. Autodisciplina, persistência e assertividade; 5. Transparência e impessoalidade; 6. Isenção, imparcialidade e objetividade; 7. Habilidades interpessoais ou a capacidade de trabalho em grupo; 8. Autocontrole dos impulsos.”
Delineia-se, neste momento, a moral da parceria, com padrões de conduta nos interesses de médio e longo prazo, criticando os imediatismos. Com isso, pretende-se cumprir os compromissos para manter os laços com as outras empresas e pessoas, para sempre ganhar bem. As parcerias são cultivadas e não são dadas, daí, as relações são de convergência e de confiança.
Não há divisão das pessoas em grupo a ser privilegiado e grupo a ser pisado. E as relações para durarem devem, segundo Srour (p. 298): “1. Observam-se garantias precisas e confiáveis de desempenho; 2. Exige-se transparência e rejeita-se qualquer fraude, logro ou manipulação; 3. Compartilham-se informações, algumas estratégicas, como projetos, programações, especificações técnicas, racionalização dos processos, experiências logísticas, técnicas de prestação de serviços; 4. Implementam-se ações conjuntas que, muitas vezes, resultam em apoio mútuo em situações de crise; 5. Realizam-se de forma partilhada inovações técnicas ou de gestão; 6. Encaram-se as negociações como jogos de soma positiva, visando a ganhos mútuos; 7. Aprende-se o negócio um do outro, a fim de economizar custos e aumentar a produtividade; 8. Convertem-se as empresas e pessoas, que foram eleitas como parceiras, como extensão do próprio negócio.”
Trata-se de uma moral em plena construção, para o desenvolvimento da cidadania empresarial calcada na responsabilidade social.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Teorias éticas, segundo Max Weber


PROF. MS. ROGER MOKO YABIKU

Tal como visto anteriormente, a ética teoriza sobre as condutas morais. Então, vale a pena indagar se existe somente uma teoria ética. É claro que não. Magistralmente, o sociólogo alemão Max Weber dividiu as teorias éticas em dois grandes grupos. O primeiro grupo compreende a ética da convicção, ou deontologia (tratado dos deveres). O segundo, a ética da responsabilidade, ou teleologia (estudo dos fins). Isso não quer dizer que a convicção exclui totalmente a responsabilidade e vice-versa.
“Cumpra suas obrigações”, ou “cumpra as prescrições”, apontam as máximas da ética da convicção. É tudo preto no branco, não existindo tons de cinza. Ou tudo é rigidamente certo, ou tudo rigidamente errado. Não há questionamentos, pois as verdades já são pré-estabelecidas. A ética da convicção se desdobra em duas vertentes: a -) a de princípio, de respeito rigoroso às normas morais e legais, sem tanto se preocupar com consequências, no esquema: “respeite as normas, haja o que houver”, b-) a de esperança, na qual os ideais religiosos são predominantes, com o lema “o sonho acima de tudo”.



Apesar de a ética da convicção ser prescritiva, há de se levar em consideração a liberdade humana. Então, se pode seguir os preceitos morais, ou não. Pode-se adotar outros valores ou princípios morais, sem deixar de ter a convicção, as certezas, o cumprimento das ordens. Todavia, pode-se também aceitar as responsabilidades de se desobedecer o cumprimento fiel da norma moral ou legal, visando a melhor consequência dos atos. Ou, ainda, se pode resolver abandonar a conduta moral, já que fazer o bem ou o mal é uma escolha. E não destino.
Conforme a ética da responsabilidade, as pessoas são responsáveis por aquilo que fazem. Em vez de se seguir fielmente normas morais ou legais, os indivíduos fazem uma análise meticulosa de uma situação, no intuito de avaliar os efeitos previsíveis de uma ação. E também outros fatores como: resultados positivos para a maior parte das pessoas, ampliar a quantidade de alternativas de escolha (dos males, o menor).
Na ética da responsabilidade, a decisão decorre das implicações que cada conduta enseja, obrigando o agente do conhecimento das circunstâncias vigentes. Há análise de riscos, cálculo de custo benefício, para atingir fins mais valiosos, pois seriam altruístas e imparciais.
Diferentemente da ética da convicção, a ética da responsabilidade não tem como parâmetro de conduta princípios ou ideais, muito menos crenças existentes anteriormente. Segundo a ética da responsabilidade, analisam-se situações concretas e seus possíveis impactos. E se escolhe a decisão que causa maiores benefícios para a coletividade adotada. Legítima é a ação que causa em bem maior e evita um mal maior.
A ética da responsabilidade divide-se em duas vertentes. A primeira é a ética utilitarista, na qual se exige o maior bem para o maior número de pessoas, ou seja, levar mais felicidade possível e com mais qualidade (critério de eficácia) para o maior número de pessoas (critério de quantidade). Já na segunda, a ética da finalidade se traduz pela bondade dos fins que, eventualmente, justificariam as ações tomadas, desde que em sintonia com o interesse coletivo. Em miúdos, “faça o bem custe o que custar, mesmo que desobedeça uma norma moral ou legal”.
Quanto às ações, há o seguinte: a-) nas ações segundo a ética da convicção, há imediata, ou quase imediata, aplicação de princípios prescritos anteriormente; b-) na ética da responsabilidade, há expectativa de se alcançar fins (finalidade), ou consequências (utilitarismo).
Em suma: na ética da convicção se faz algo porque é um mandamento e se deve cumprir as obrigações (na vertente de princípio – respeito às normas, haja o que houver; na de fé – o sonho antes de tudo); na ética da responsabilidade se faz algo por que é o menor dos males ou gera mais bem para os outros (na vertente da finalidade – alcança-se os objetivos altruístas custe o que custar, na vertente utilitarista – o maior bem para mais gente).
A pureza da doutrina, a luta por ideais e a manutenção a qualquer custo dos seus princípios caracterizam a ética das convicções. A linha que separa os virtuosos dos não-virtuosos é bem delimitada. Virtuosos são os que seguem os preceitos morais ou legais, e os demais não fazem parte desse grupo. Há de se tomar cuidado para, por exemplo, não se resvalar no fanatismo seja religioso (orientado pela fé) ou mesmo de princípios (orientado por partidos, ideologias, etc). E muitas vezes há perseguição ou violência contra quem pensa diferente.
A ética da responsabilidade analisa o presente para tentar assegurar um futuro, com resultados presumidos. Não se trata simplesmente de “boas intenções”, mas de poupar males à coletividade. Ela pretende alcançar metas possíveis de serem cumpridas, com eficácia dos resultados e dos meios, com posicionamento pragmático e postura altruísta.



Trata a teoria da convicção de uma ética dos deveres, obrigações, de consciência, certezas, imperativos categóricos, ordens incondicionais, com conforto das respostas prontas e das verdades absolutas. De certa forma, compreende um idealismo purista, dogmático, lírico, dedutivo, com características de catecismo ou cartliha.
Por outro lado, a ética da responsabilidade contém propósitos, razões, resultados previsíveis, análise de circunstâncias e fatores condicionantes, com desafios das soluções relativistas. Faz paralelo a um realismo pragmático, realista, frio, analítico, calculista, indutivo, pluralista, flexível. Depende de situações e de condições. É cética e permeada de análises de risco.


* Texto baseado no livro “Ética Empresarial – a gestão da reputação”, de Robert Srour.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mensagem do dia dos advogados

Abaixo, a mensagem do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de Sorocaba, Alexandre Ogusuku:

"Prezada Advogada, estimado advogado

Pensando no que escrever nessa data comemorativa, lembrei-me da oração de Santo Ivo, cujo texto peço vênia para compartilhar:



Glorioso Santo Ivo, lírio da pureza, apóstolo da caridade e defensor intrépido da justiça, vós que, vendo nas leis humanas um reflexo da lei eterna, soubestes conjugar maravilhosamente os postulados da justiça e o imperativo do amor cristão, assisti, iluminai, fortalecei a classe jurídica, os nossos juízes e advogados, os cultores e intérpretes do Direito, para que nos seus ensinamentos e decisões, jamais se afastem da equidade e da retidão. Amem eles a justiça, para que consolidem a paz; exerçam a caridade, para que reine a concórdia; defendam e amparem os fracos e desprotegidos, para que, pospostos todo interesse subalterno e toda afeição de pessoas, façam triunfar a sabedoria da lei sobre as forças da injustiça e do mal. Olhai também para nós, glorioso Santo Ivo, que desejamos copiar os vossos exemplos e imitar as vossas virtudes. Exercei junto ao trono de Deus vossa missão de advogado e protetor nosso, a fim de que nossas preces sejam favoravelmente despachadas e sintamos os efeitos do vosso poderoso patrocínio. Amém.

Que Deus abençoe as advogadas e advogados de Sorocaba e de todo o Brasil.

Feliz dia do advogado são os votos da Diretoria da 24ª. Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil.

Alexandre Ogusuku

Presidente"

terça-feira, 10 de agosto de 2010

As duas morais do Brasil


Prof. Ms. Roger Moko Yabiku

Aparentar ser honesto e ser realmente honesto. Qual das duas opções vale mais no Brasil? Levar vantagem em tudo, sem ser pego, ou não levar vantagem e, mesmo assim, arriscar a tomar na cabeça por ser honesto? O que fazer diante de uma situação desonesta: a-) denunciar o esquema; b-) não fazer parte do esquema e silenciar sobre tudo; c-) entrar no esquema e levar sua parte na bolada? O sociólogo Robert R. Srour, no livro “Ética Empresarial – a gestão da reputação”, responde essas questões, com uma análise histórica e comportamental do brasileiro.
Convivem, ao mesmo tempo, assinala Srour, a moral da integridade e a moral do oportunismo. Cada uma delas tem seu espaço próprio e são reflexo da ambivalência da sociedade brasileira, um discurso oficial (da integridade, para mostrar para os outros) e um discurso oficioso (do oportunismo, das ações que não se quer mostrar em público), que alimenta e sacramenta a hipocrisia.
Para a moral da integridade, como o próprio nome diz, se fazem reclamações e se fomentam indignações (reais ou fingidas?) contra a corrupção, a falta de vergonha na cara, e tudo quanto é tipo de patifaria. Já, na moral do oportunismo, o melhor a fazer é levar vantagem em tudo, de modo que isso não se torne público, o importante é se dar bem, e quem não quer fazer parte desse esquema é “babaca”, “ingênuo”.

Moral católica e moral protestante



Porém, antes de se adentrar nos pormenores das morais brasileiras, é preciso realizar uma contextualização histórica. Nos Estados Unidos da América do Norte, imperou a moral protestante, que justificava a acumulação de riquezas por meio do trabalho. No Brasil, a moral católica não via com bons olhos a riqueza, mesmo que todos gostassem da idéia de enriquecer facilmente. Os ricos, no Brasil, eram elogiados por doarem pequenas montas a entidades beneficentes, orfanatos, hospitais, numa tentativa de amenizar o sofrimento dos mais pobres.
Trabalhar – principalmente na seara manual – não era coisa de gente nobre e bem nascida, era coisa de gente pobre, sem qualquer resquício de nobreza. E até hoje se pensa, de certa maneira, desse jeito, em que os melhores não precisam trabalhar. Há, portanto, um elogio ao ócio.
Em contraste aos Estados Unidos (região norte), em que havia pequenas propriedades familiares, com trabalho livre (dos primeiros colonos) e policultura para abastecer o mercado interno, no Brasil, havia os latifúndios (imensas porções de terra de um só dono) que praticavam monocultura para exportação, com escravos e dependentes. Enquanto lá, se pensava em formar um País, aqui se pensava mais em extrair e esgotar as riquezas naturais, para se mandar para os países tidos como superiores.



Colonização de exploração e de povoamento




Um outro adendo. No Brasil e no sul dos Estados Unidos, o sistema de colonização foi de exploração, um tipo de vale-tudo predatório, em que a meta principal dos colonizadores que para cá vinham era enriquecer rápida e facilmente para desfrutar de uma vida boa, não aqui, mas na metrópole, Portugal. No norte dos Estados Unidos e no sul do Brasil, o sistema de colonização foi de povoamento. Quer dizer, famílias saíam dos seus países de origem, na Europa – que estava com excedente populacional -, para viverem definitivamente num outro país. Essas pessoas, muitas vezes, sofriam perseguições políticas e religiosas, entre outros tipos de injustiças.
Aqui, então, a economia se baseava na grande propriedade rural, na agricultura de um só produto para exportação, e no trabalho forçado. A sociedade que resultou disso era patriarcal, oligárquica, autoritária, racista e discriminatória, seja contra escravos, serviçais ou mesmo mulheres.
O sistema de exploração provocou o patrimonialismo e o dualismo social brasileiro. No patrimonialismo, se confundem interesses públicos e privados, em que a República é terra de ninguém, em que se propicia a corrupção, pois os amigos daqueles que estão no poder são os privilegiados. O dualismo social se traduz em dois tipos de tratamentos, um para gente distinta (nobre) e outro para gente simples. Para a gente distinta, vale um tratamento melhor, inclusive passar por cima das leis e dos regulamentos. Para os simples, ou para quem não é amigo, a aplicação pura e simples da lei e dos regulamentos.
No norte dos Estados Unidos e no sul do Brasil, havia a pequena propriedade familiar, com produção agrícola diversificada, para fins de consumo interno, fomentada pelo trabalho livre. Essa sociedade, então, era mais tolerante e aberta, tendo nas mulheres as parceiras dos homens no trabalho.



Protecionismo e empreendedorismo




A moral de base protestante baseia-se na realização pessoal, sendo elitista e, por vezes, excludente. Já a moral de base católica é a da salvação, do paternalismo e, também, da solidariedade. Porém, já havia um dualismo na moral de base católica. Na Idade Média, apesar da condenação do lucro e da acumulação de riquezas, algumas ordens religiosas podiam dar empréstimos com juros. E alguns podiam praticar o tráfico de escravos.
No entanto, tanto a moral católica quanto a protestante são protetoras. E, de certa forma, influenciam hoje a estrutura clerical e estatal. Por outro lado, há também uma moral empreendedora, individualista, com a crença nas leis no mercado. Também outra ambiguidade. A moral protetora (doutrina católica) é formalista, cheia de regramentos que devem ser seguidos, apesar de algumas vezes se mostrarem sem funcionalidade. Mas as práticas eram permissivas e muitas vezes apontavam num sentido contrário à doutrina. Olha só: separação entre teoria e prática: o discurso oficial é bonito para rezar, mas para se fazer as coisas a história é outra.



Igreja e Estado

Engana-se quem pensa que a declaração da Independência do Brasil com relação a Portugal por Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822, marcou uma revolução nos costumes locais. O Imperador Dom Pedro I, na Constituição de 1824, oficializou o catolicismo como religião oficial. A Igreja subordinou-se ao Estado Brasileiro. O imperador indicava os sacerdotes para os cargos mais importantes e também os remunerava. As ordens do Papa, para valer aqui, deveriam ter o “beneplácito” (aprovação ou desaprovação) de Dom Pedro I.
Nessa época, ser padre era meio que ser funcionário público: ser sacerdote era uma profissão remunerada. Imaginem a confusão mental nos padres e nos fiéis. Obedecer a Deus ou ao imperador? Cuidar da fé ou da política do Império? Alguns sacerdotes não seguiam fielmente a doutrina, porém, tinham práticas mais permissivas. Dom Pedro I, por causa disso, quis “moralizar” o clero. E, de pronto, teve oposição dos bispos. Com a proclamação da República, em 1890, houve separação entre Igreja e Estado.


As forças sobrenaturais

Os costumes religiosos brasileiros são miscigenados, uma mistura de várias tradições de matrizes indígenas, africanas e também européias (espiritismo kardecista) com o catolicismo oficial. Desse sincretismo, surgiram o candomblé e a umbanda. Nos cultos afro-brasileiros, os orixás são deuses que podem vir ao mundo terrestre, encarnando-se em médiuns, denominados “cavalos”. No espiritismo, os espíritos dos mortos comunicam-se com os seres humanos pelos médiuns. Já no catolicismo fazem essa conexão entre Deus e os homens, entre as luzes e as trevas, os padres, os anjos, os santos, entre outros.
Não raro, se recorre ao auxílio do além, das forças sobrenaturais, para a obtenção do sucesso, para se dar um “jeitinho”, para essa comunicação entre o mundo terreno e o mundo do além. A exemplo disso, também se busca ao auxílio de “autoridades” para fazer o meio de campo entre o mundo público e o mundo privado, perfazendo aquele fenômeno conhecido como clientelismo. Tenta-se bajular a autoridade do além ou da terra para se obter um “favor pessoal”.


Procedimentalismo, burocracia e Estado paternalista



O Estado brasileiro é imenso, burocrático e muitas vezes não eficiente. A legalidade formalista que permeia praticamente torna as coisas bem complicadas para as pessoas que não tiveram assim tanta formação, ou que não podem se defender ou postular seus direitos por meio de advogados com maior desenvoltura. O fato de não entender os procedimentos legais e de, muitas vezes, não conseguir acompanhar as exigências do Estado, faz com que grande parcela da população fique na informalidade, em desconformidade com a legislação. Para se abrir um pequeno comércio, um bar, por exemplo, há necessidade de se cumprir inúmeras exigências, que demandam custos e pagamento de tributos e preços públicos, que muitas vezes são proibitivos.
Essa falta de compreensão das normas e também o excesso delas provoca, nas pessoas, uma sensação de impunidade e de injustiça. Esses mitos são alimentados pela morosidade do Poder Judiciário e pela fiscalização excessiva do Estado. Com isso, há contrabando, pirataria, sonegação fiscal e, não raro, desrespeito à lei. Para que seguir uma lei que atrasa a vida?


Discurso e prática: faça o que eu digo, não faça o que eu faço




Faz parte da cultura brasileira. E o formalismo proporciona isso. De um lado, o discurso, do outro a prática. Os códigos de conduta contra a esperteza cotidiana. As boas intenções versus os pequenos arranjos convenientes. Ou ainda: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.” Pois bem. Até o fim dos anos 1980, as relações entre as pessoas, no Brasil, eram de dependência, ou seja, autoritárias, nas quais os dependentes eram executores de ordens e morriam de medo de sair das graças dos seus superiores. As relações eram mais baseadas na pessoalidade que no profissionalismo, com doses bravas de apadrinhamento. Por outro lado, os anos 1990 trouxeram um choque de gestão, um modelo de transição, de um estágio anterior para um mais sofisticado. A partir dos anos 1990, então, as relações passaram ser mais independentes, liberais, mais profissionais em vez de pessoas, com mais análise do mérito que na indicação.
Quem lê estas páginas, decerto diz que a partir dos anos 1990, as coisas começaram a melhorar. Contudo, ainda há entraves na cultura brasileira para que isso se implante por completo. Eis, pois. De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (Ibope), de 1992 a 1993, 64% dos entrevistados disseram que, no Brasil, se uma pessoa tivesse oportunidade de obter uma vantagem e não ser descoberta, ela o faria, agia ilegalmente.


Moral da integridade x moral do oportunismo

Ao exame, ademais, das duas morais brasileiras. A primeira é a moral da integridade, um sistema de normas morais oficiais do imaginário brasileiro, personificado num comportamento de virtude e decente. Ela é ensinada nas escolas, nas igrejas, permeia os tribunais e a imprensa consciente. Tem como valores a honestidade, a lealdade, a idoneidade, o decoro, a lisura na administração pública, cumprir com a palavra, cumprir as obrigações, obedecer os costumes, respeitar a verdade e a legalidade e amar ao próximo. Caracteriza a pessoa confiável, a quem se pode acreditar. Nesse caso, os interesses privados são subordinados ao bem comum. A probidade é enaltecida, em detrimento da desonestidade, da enganação, da fraude, do blefe e da manipulação da “inocência” dos outros.
Por sua vez, a moral do oportunismo é o conjunto de normas morais oficioso, do comportamento esperto, egoísta. O indivíduo tem que se dar bem, mesmo que em cima da desgraça alheia. O crescimento é na sombra, na malícia, e extremamente hipócrita, pois se diz, em público, aderir aos ditames da moral da integridade. As promessas são informais e secretos, com a complacência dos mais íntimos, ou daqueles que levam vantagem no esquema. Obviamente, muitos desses procedimentos são imorais e ilegais. É preferível ser conveninente do que ter princípios e ter honesto. Para a moral do oportunismo, o “certinho” é babaca, ou “inocente”, é alguém que pode ser manipulado ou tirado do caminho conforme se considerar necessário.
Na moral da integridade, se procura o jogo limpo na esperança de que todos os participantes cumprirão as suas regras, daí, há confiança em pessoas de fora do seu grupo. Já na moral do oportunismo não se tem tanta confiança em pessoas de fora da “panelinha”, pois não se sabem se elas manterão, em segredo, os “esquemas” e os “jeitinhos” para a obtenção das vantagens e dos lucros.
Pois é, caro leitor. Nem sempre o que aparenta ser é o que realmente é. Brasil, mostra tua cara!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Devido processo legal aplicado ao jornalismo


O Direito Processual Penal contemporâneo alicerça-se em princípios consolidados na Constituição Federal de 1988 no intuito de se evitar a imposição de arbitrariedades por parte de quaisquer que sejam os controladores do aparato estatal. Os princípios presentes no ordenamento jurídico, mormente no constitucional, servem como guias de hermenêutica, de racionalidade e de atuação das partes e do Estado-Juiz no processo. Nesse arcabouço, destacam-se o princípio do devido processo legal, o princípio do contraditório e o da ampla defesa, que podem ser aplicados à atividade jornalística, contribuindo para a elaboração de parâmetros de racionalidade que auxiliem no desempenho ético da imprensa no cumprimento do seu papel de guardião da democracia contemporânea. A imprensa livre é necessária à democracia. Porém, não se trata de uma liberdade ilimitada e irresponsável.
De acordo com o princípio do devido processo legal, ninguém pode ser processado por um esquema que não seja previamente estabelecido. Ou seja, as normas em que se desenrolam as atividades persecutória e judiciária do Estado e a de defesa do acusado não podem extrapolar aquilo que está legalmente cominado.
Por princípio da ampla defesa entende-se, de um modo geral, que o acusado deve ter a chance de se explicar, no processo penal, de todos os modos possíveis e legalmente previstos, mesmo que seja notoriamente culpado de um fato que lhe fora imputado. A exceção, nesses casos, seria o da revelia, no qual o réu não se apresenta para se defender de um fato considerado criminoso a quem lhe é apontada a autoria.
O princípio do contraditório seria o que se diz no jargão jornalístico: sempre ouvir a outra parte. Trata-se de não somente ouvir, mas de dar efetividade de se constar no processo penal as versões concernentes a um fato, tanto por parte de quem acusa, como por parte de quem se defende.
A imprensa num País republicano e democrático é livre, porém, não acima da Lei, nem superior à dignidade inerente a todas as pessoas. Portanto, não pode agir conforme ao bel prazer dos jornalistas. Há de se elaborar um método que forneça ao operador noticioso um parâmetro de racionalidade que resguarde as pessoas de eventuais abusos cometidos no exercício da profissão jornalística.
Seria interessante lançar parâmetros de racionalidade, para o jornalista, baseados nos princípios do processo penal constitucional, especialmente os acima citados, no intuito de fornecer maior segurança no fórum da opinião pública tal como se verifica, em tese, nos fóruns onde atuam os operadores do Direito.
Obviamente, não há como se explorar a aplicação de todos os princípios do processo penal constitucional como modelo de racionalidade da atuação jornalística. Portanto, num primeiro momento, há de se falar mais com relação ao princípio do devido processo legal, ao princípio do contraditório e ao princípio da ampla defesa.
Esses três princípios são basilares no processo penal e, de certa maneira, promovem um tipo de justiça processualmente válida. Quer dizer: se houver persecução penal, que seja dentro de determinados limites, com normas estabelecidas anteriormente e segundo critérios que garantam ambas as partes opinarem em grau de paridade no processo e de modo a proporcionar que o acusado sempre possa se defender.





Esse modelo pode ser aplicado na atividade jornalística, principalmente para evitar abusos e arbitrariedades por parte de quem está na imprensa. Trata-se de oferecer parâmetros de racionalidade de atuação para o jornalista não ser guiado pelas suas paixões pessoais ou por tendências que nem sempre condizem com o interesse público. Afinal, nem sempre o que o jornalista publica coincide necessariamente com o interesse público e nem sempre o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado pode justificar o solapamento moral das pessoas, mesmo as já condenadas judicialmente.
A atividade jornalística necessita de uma discussão teórica que induza a resultados práticos. Nada mais prático que realizar associações com uma área do conhecimento como o Direito, que pode contribuir através da adaptação de princípios do processo penal constitucional – e de exemplos cotidianos – para a melhoria qualitativa da imprensa.
Lança-se, portanto, a preocupação em demonstrar que se podem aplicar o princípio do devido processo legal, o princípio da ampla defesa e o princípio do contraditório, oriundos do processo penal constitucional, à atividade jornalística, contribuindo para a discussão teórica para se encontrar parâmetros de racionalidade no intuito de colaborar com aspectos práticos da deontologia do jornalismo, concluindo que a liberdade de imprensa não pode ser ilimitada. Afinal, existem limites para a supremacia do interesse público sobre o interesse privado.
O devido processo legal pode ser utilizado como parâmetro de racionalidade na elaboração de rotinas de procedimento na atividade jornalística, desde a apuração, redação e edição de uma matéria. Por sua vez, o princípio do contraditório é vital para conduzir à imparcialidade na elaboração de uma matéria jornalística, assim como é essencial para o desenvolvimento justo de um processo penal. E mais: o princípio da ampla defesa não é simplesmente ouvir a outra parte. É garantir realmente – ou processualmente, como no processo penal – que os acusados tenham efetivamente como se defenderem do que lhes é imputado.
Muito das aulas de legislação e ética no jornalismo se resume a discussões teóricas, devaneios do senso comum ou à leitura do Código de Ética dos Jornalistas Profissionais Brasileiros. O olhar do jurista poderia acrescentar maior qualidade no cotidiano dos profissionais de imprensa. Não basta ouvir o outro lado, é preciso muito mais, pois em nome da liberdade de imprensa, podem ser cometidas atrocidades de difícil reparação. O cuidado dos jornalistas poderia, num primeiro momento, ter como modelo paralelo a atividade jurisdicional encontrada no Direito Processual Penal, para se evitar divulgações levianas e linchamentos morais.


Artigo originalmente publicado no jornal Cruzeiro do Sul, página A-2, de 30 de julho de 2010. URL: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=44&id=327719


terça-feira, 20 de julho de 2010

"Schadenfreude": ser feliz é curtir a infelicidade do outro



Há uma palavra em alemão denominada “Schadenfreude”. Talvez não exista uma expressão em português para traduzi-la fielmente. Numa tradução aproximada, significa “sentir-se feliz com a infelicidade alheia” (Schaden – dano; Freude – alegria). Quem não sentiu uma pontadinha de alegria, na Copa do Mundo de Futebol de 2010, quando a seleção da Argentina tomou uma goleada de 4 a zero da Alemanha? O mesmo ocorreu quando a Holanda ganhou por uma virada de 2 a 1 do Brasil.
Os olhares cínicos e as risadinhas amarelas no canto da boca, com suspiros de satisfação quando o outro se ferra, podem demonstrar a “Schadenfreude” com uma certa tipicidade. Quem sabe, tal sentimento reflita a verdadeira natureza humana, que se regojiza aos deleites diante da desgraça dos outros. Aliás, esse não é o segredo de sucesso das "pegadinhas" e outras "trapalhadas acidentais" veiculadas, principalmente, nos programas televisivos de domingo?
Sem as máscaras da moral cristã, se revelam os desejos destrutivos e o egoísmo extremado do ser humano. E também se dá vazão à hipocrisia. Quando se coloca uma pessoa no centro das atenções, todas suas ações e atitudes são analisadas como se vistas por um microscópio. Isto é, qualquer coisa – por mais normal que faça e que também a maioria das pessoas faz – é motivo de recriminação.



Neste caso, a “Schadenfreude” se dá pelo fato de o sujeito em questão ser descoberto e exposto ao público, enquanto os outros - que, provavelmente, fazem a mesma coisa - permanecem ocultos. Anseia-se destruir o outro quem sabe pelo fato de o mesmo lhe ser semelhante, no intuito de se tentar apagar aquela faceta interior que ninguém quer ver.
Afinal, ao se olhar no espelho nem sempre se gosta do reflexo, principalmente, quando mostra quem realmente se é. E ninguém aprecia ver sua imagem desnuda, com todas suas imperfeições. É melhor ver as imperfeições – mesmo as suas – nos outros.
Eis, pois, a “Schadenfreude”. O gozo em flagrar a corrupção alheia, já que a sua própria escapa impune. Corruptos e calhordas são os outros. É mais fácil viver assim: olhar a hipocrisia no outro, em vez de si mesmo, e clamar para que o outro tenha vergonha na cara, em vez de ter vergonha na cara por si mesmo.
Errados sempre são os outros. Dessa maneira, é bem melhor que olhar a si mesmo diante do espelho e morrer de decepção.
Publicado também no "Direto da Redação com Leila Cordeiro e Eliakim Araújo", URL: http://www.diretodaredacao.com/noticia/ser-feliz-e-gozar-com-a-desgraca-alheia

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morre José Saramago, o mecânico que virou premio Nobel de Literatura



Faleceu hoje (18 de junho de 2010) o premio Nobel de Literatura José Saramago, na sua residencia, nem Trias, Lanzarote, Espanha. O escritor nasceu em 1922 em Azinhaga, Portugal. Teve infancia pobre e não pôde cursar uma universidade. Formou-se mecânico num curso técnico. E frequentava com avidez a Biblioteca Central Palacios Galveias, em Lisboa.

Foi também jornalista e tradutor, mas os romances foram sua marca registrada. Livros como "Evangelho segundo Jesus Cristo" e "Ensaio sobre a Cegueira", por exemplo, mostram o seu dominio sobre o idioma português, além de um estilo inconfundivel, com parágrafos longos e de imaginação fertil.


Saramago abominava o simplismo que invadiu a vida contemporanea. Uma das suas frases, numa entrevista à Revista Expresso Portugal de 11 de outubro de 2008:


"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma."




Leia mais: www.josesaramago.org

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Paz, Justiça e Tolerancia no Mundo Contemporaneo



"Paz, Justiça e Tolerancia no Mundo Contemporaneo" é o novo livro do professor Doutor Luiz Paulo Rouanet, da Pontificia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), da Edições Loyola. Com toda sua formação, desde a graduação ao doutorado, na Universidade de São Paulo (USP), Rouanet vem se dedicando principalmente ao estudo da justiça.

Tive-o como orientador do Mestrado. Oportunidade única, aliás, de conhecer uma pessoa ao mesmo tempo tão erudita, serena, humilde e amiga. Leia o texto da sinopse da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=22096097&sid=17117321012616378359767274&k5=DACE6F9&uid=472767953480308): "O texto inaugural do livro constitui uma reflexão sobre o atentado de 11 de setembro de 2001 e para compreender esse fato e suas consequências o autor voltou ao século XVI e a Erasmo de Roterdã, passando por Kant e chegando até Rawls e Habermas."














terça-feira, 15 de junho de 2010

Tutela Penal em Decorrência de Atividades Nucleares



"Tutela Penal em Decorrência de Atividades Nucleares" é nome do livro do professor Doutor José Renato Martins, que será lançado às 19 horas de 18 de junho, no Laboratório do Curso de Direito, no bloco 4, do campus Taquaral, da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), no quilômetro 156 da Rodovia do Açúcar, em Piracicaba (SP).





Coordenador do curso de especialização em Direito Penal e Direito Processual Penal, a obra de Martins é basicamente uma adaptação da sua tese de Doutorado junto à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FD-USP).

Tive sorte de conviver um tempo com ele, quando fui aluno de lá. Aprendi coisas que jamais sonharia aprender quando fazia o curso de graduação em Direito. Na época, já era professor universitário e Mestre em Filosofia (Ética).

Com certeza, se trata de uma leitura extremamente atual, numa linguagem clara, dinâmica e didática.