quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Meu livro - Contos do Infinito





O autor Roger Moko Yabiku lançou o livro “Contos do Infinito”, pela Chiado Editora, de Portugal. A obra contém, em sua maioria, pequenas histórias com temática policial, existencialista e de crítica social. “Analiso o cotidiano sob o ponto de vista da introspecção, do sujeito que não desiste apesar de todas as dificuldades encontradas”, diz o autor. “Mas também há espaço para um amor mais sublime, quase platônico.”
No conto “Voltar de Buenos Aires”, Yabiku denuncia a manipulação das massas: “Na minha terra, da qual parti a contragosto, os tiranos se fazem muito mais despercebidos. Sob a sigla de movimentos, estatais, sindicatos, partidos, investigam todos os passos dos menos favorecidos. (...) No mundo dos reles mortais, só existem direitos para aqueles de berço bem-nascido, cujos traços econômicos estão rigidamente definidos, em contraposição aos coitados de dentes e sonhos partidos”.
Os alertas quanto aos riscos de um regime totalitarista dão o tom de “Quando ela veio”. Neste conto, são descritas cenas de tortura contra um indivíduo que ousa a desafiar a ordem vigente e que, ao final, recebe uma inusitada visita: “Ela continua ao meu lado e segura a minha mão. Com um fiapo de voz, sem crer muito no que presencio, pergunto-lhe finalmente o seu nome.”
Já em “Conto de Natal”, o autor destila uma amarga e irônica crítica à desigualdade social, cujas diferenças permitem que, numa ponta, haja prostituição infantil e pobreza extrema e, na outra, pequenos burgueses com mesas fartas para a ceia.
A pedofilia é tema dos textos “A fábrica de mortadelas” e “O retorno da vítima”. “O tom dos escritos é brutal e retrata cenas de vingança daqueles que, outrora em posição de hipossuficiência, foram abusados por aqueles que deveriam protegê-los”, explica Roger Yabiku.
O clamor por justiça social está presente em “Quase-discurso”: Esforços reunidos em torno de um acordo geral de vontades nos garantirão meios para que tenhamos uma estrutura básica, incluindo em seu bojo instituições justas, com igualdade de oportunidade para todos.”
Roger Yabiku é bacharel em Direito e Jornalismo, graduado pelo Programa Especial de Formação de Professores de Filosofia, MBA em Comércio Exterior, especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal e mestre em Filosofia (Ética). Atualmente, atua como professor universitário e advogado, no seu escritório à Rua Manoel José da Fonseca, 35, Centro, Sorocaba (SP)..

“Contos do Infinito” custa R$ 40,00 e pode ser adquirido, no Brasil, com o próprio autor.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Pétalas

As pétalas de rosa se desmancham, suavemente, ao toque com a pele áspera dos meus dedos calejados pelo trabalho, pelo tempo e, principalmente, pela amargura da vida. Minhas mãos, minha alma e o meu ser nunca aprenderam o sentido de suavidade. A casca de pele grossa embota o tato. Para tentar sentir algo, encosto o que resta das pétalas no meu rosto. A pele facial, um pouco menos calejada, apreende uma minúscula, mas eficiente, carga de delicadeza.
O odor agradável e discreto das pétalas de rosa me promove uma sensação de leveza, diferente dos odores carregados de perfumes artificiais e desodorantes baratos. A natureza da vida tem seus encantos e as flores têm seus devaneios.
O embrutecimento do ser afasta os pequenos, mas significantes, prazeres do cotidiano, como o cheiro e a suavidade da pele de uma mulher. Tal como a sutileza das pétalas de rosa, o toque dos dedos causa arrepios na minha pele desnuda, eletrizando-a, para atrair magneticamente os meus e os seus lábios.
O contraste de sensações do toque dos seus dedos no meu rosto é evidente. A leveza da sua pele e a aspereza da minha parecem magnetizados um pelo outro. O odor de rosas que permeia o seu ser deixa o mundo mais bonito e, com isso, motiva a vontade de viver. Por isso, o meu mundo torna-se cada vez mais lindo quando eu estou perto de você.

Não tenho vícios, mas estou dependente pelo desejo cotidiano dos seus beijos. Seus lábios mornos transmitem milhares de pequenas ondas eletrizadas que rejuvenescem os meus lábios descascados, convertendo-os em matéria viva. E, novamente, respiro, pois o ar exalado dos seus pulmões é o mais puro perfume que me acalenta a vontade de existir.
Só com a sua presença, o desânimo desaparece. Os mais sinceros sentimentos reaparecem e têm um sentido: servir o que me cabe de você. Sei que as flores secam para dar espaço às sementes, mas para, mim, sempre será a flor das pétalas mais suaves, do mais penetrante perfume e da mais atraente pureza.
 Decifro as mensagens da sua linguagem corporal e noto a atração – e não, simplesmente, magnetismo animal. Da sua fronte, encanta-me tal como uma serpente e me orienta para um destino que parece ser fatal. Sinto-a tocando minha pele, apesar da longa distância. Sua presença, mesmo que por um milésimo de segundo de ilusão, foi o suficiente para que meu ser se transformasse em dependente do seu ser.



                Sua voz é música. Seu sorriso, estrelas. Seus olhos, diamantes lapidados. Sua alma é combustível da minha existência. Você se aproxima e se afasta propositalmente, para atiçar o meu desejo. Sabe, com exatidão, os pontos de pressão da minha alma a serem manipulados pelas agulhas impregnadas com o zelo da sua vontade.
            O que você é? Um anjo? Um ser de matéria sublime, além da densidade da matéria? Por isso, a procura incessante por alguém que não está neste plano, mas num patamar ideal, de perfeição e beleza celestial. De cara com a parede de concreto, um choque de realidade. Talvez, não seja nesta vida que lhe irei encontrar, mas persigo e conquisto, ainda mais, o desejo de lhe encontrar.
             Quem, ao menos uma vez, tivera a chance de conhecer a verdadeira essência do amor? Neste mar de imperfeição deste mundo sólido, permeado de mentiras e decepção, as coisas menos relevantes se tornam mais importantes, objetos da cobiça humana.
            A fortuna não me agraciou com a riqueza, ainda que eu a perseguisse. Porém, ao longo das minhas conquistas, houve um momento em que nada mais me aprazia. Acumulei riquezas, perdi riquezas. Conheci profundamente a popularidade e a solidão – cada qual com seus aspectos positivos e negativos.
            Mesmo diante da escassez de bens, meus anseios não eram por valores monetários. Mesmo que me pudessem oferecer todas as riquezas do mundo, tudo o que eu quero é você.