Abro a janela para sentir o cheiro da escuridão típica da madrugada. Parece que vai chover, mas eu não sei, como versa a música. Quem me dera saber algo mais a respeito de meteorologia, para não ficar ao bel prazer dos caprichos climáticos. Mas não confio na previsão do tempo, nem dos comentários patéticos dos apresentadores de televisão. Não há nada pior que sair para caminhar pela cidade e ser apanhado de surpresa por uma torrente enervada. Havia um ponto de ônibus situado numa avenida ao sopé de uma elevação. Costumava descer naquele ponto. Minha casa ficava alguns quarteirões acima, daquele morro totalmente coberto por casas, sobrados, todo tipo de cimento e muito asfalto.
Com o solo impermeabilizado quase por completo, a enxurrada nascia devagarzinho e ganhava força, à medida que descia com a aceleração da força da gravidade. Na avenida, outra torrente se formava rumo a planos mais baixos. Mas, justamente no meu ponto de ônibus, a água de chuva, adicionada de outros detritos, advindos da sua força de erosão, se aglomerava e formava uma pequena lagoa.
O ônibus parou. Abri o guarda-chuva e pulei uns dois metros. Não foi o suficiente. Pisei num pedaço da pequena lagoa, cuja força da correnteza jogou-me em pé para o centro. A força do vento entortou a haste do guarda-chuva. Os músculos penaram para sair do meio da lagoa. Iniciei a subida do morro de asfalto. A chuva veio com mais força e a torrente esbarrava no meu joelho.
Logo no topo do mundo artificialmente aquático, dobrei a esquina. A passos lentos caminhei para casa. Já estava mais molhado que um frango. A água lavou meu corpo e o frio parecia ter congelado as impurezas. Porém, a água era suja, impura, carregada de nojeiras. Livrei-me das roupas e entrei no chuveiro. Água quente para sacudir o esqueleto. Não me sentia com rigor suficiente para tomar outro banho de água fria.
Sou homem, mas não sou santo, nem eremita natureba. Seria mais fácil virar saco de pancadas do que levar as agulhadas das gotas de água fria. Permito-me poucos confortos, para não me acostumar com leviandades e luxúrias. Nada contra as opções sexuais não convencionais, só não curto que pisem no meu calo e não me respeitem.
Ainda com a cabeça para fora da janela, sinto o vento frio estapear minha face e a me despertar recordações. Deixo o frio entrar pelas minhas narinas para o frio espantar as fagulhas de preguiça que ainda se alojam no meu ser. Preciso ficar acordado para terminar a demanda. Não tem nada mais escroto do que deixar o trabalho pela metade. Não adianta tentar explicar. Qualquer tipo de trabalho intelectual, aqui, é tido como coisa de vagabundo.
Já pensou? Toda atividade que exige um pouco mais de esforço intelectual é simplesmente coisa de quem não gosta de trabalhar, é só ficar sentado lendo alguma coisa, ou na frente do computador. Pensamento reles de quem não tem noção de que é esse “trabalho de vagabundo” que vai levar o País ao desenvolvimento.
Existe uma preguiça de pensar que está arraigada inexoravelmente nas almas das pessoas. Criou-se uma cultura de extermínio de virtudes. Quem ousar galgar um degrau acima da mediocridade será destruído. Desafiar as estruturas é coisa de gente metida a besta, que gosta de aparecer, e que pensa que é melhor que as outras. Por isso, matutam os “cabeças pensantes”, é justificável o boicote e a humilhação dos que tiveram a ousadia de desafiar e ir além da tradição do nivelamento intelectual por baixo.
Acho que é por causa disso que eu nunca me permiti ir além dos deveres. Fui amaldiçoado em vida, como se fosse um leproso com as chagas invisíveis, que, mesmo assim, são repugnantes a todos os seres que encontro. Vivo no exílio, mesmo estando rodeado de pessoas. Tenho a precaução de não deixar que a maldição vá além de mim mesmo. Não me envolvo demais com os outros, pois sei que elas também serão fustigadas pelo meu tormento.
Mas quando eu lhe vi pela primeira vez, sabia que algo deveria mudar. E que as trevas que entornava meu coração, duro como pedra, deveriam dissipar-se. Olho para o infinito escuro que se desdobra na madrugada e vejo o seu rosto estampado na imensidão. Ilusão. É isso o que você é, uma ilusão mais distante que a lua que desponta ao anoitecer.
O céu está escuro e límpido, porém, sem estrelas. Só a lua para guiar os navegantes perdidos na imensidão da vida. Quem me dera ter um norte, um rumo, algo para me ancorar e não me perder diante das múltiplas escolhas da vida. Seria tudo tão simples, não ter que escolher, tudo estaria dado, escrito e marcado para ocorrer. Não seria livre. Mas também não sou livre se não sei o que fazer com a liberdade. Vá, seja livre, faça e seja o que quiser. Mentira, lorota barata.
De um modo ou outro, somos todos prisioneiros e carcereiros de nós mesmos. Encarnamos nossos mais perversos torturadores, nossas mais indefesas vítimas e nossos mais insensíveis julgadores. É verdade, porém, que quando julgamos nós mesmos, por mais horrendas que sejam nossas atrocidades, sempre nos sentenciamos inocentes. Imparcialidade é um mito. Imparcialidade é para os outros.
Volta a chuviscar. Do alto, as gotículas de água vindas do alto parecem minúsculas adagas transparentes que fazem ondular o céu escuro com pequenas punhaladas. Minúsculas adagas e tão finas quanto agulhas de acupuntura que se desmancham ao menor contato com a matéria mais bruta.
As pequenas alfinetadas dos chuviscos possuem propriedades terapêuticas. Nos seres malditos, como eu, lavam a alma, libertando-a dos pecados e dos pensamentos mais atrozes do interior obscuro que está sedimentado no insano.
Se existem pessoas às margens do contrato social, talvez eu esteja muito além dessa margem. O que eu sou exige que eu faça coisas desagradáveis, inaceitáveis para a maioria que prefere fechar os olhos à realidade como ela verdadeiramente é. A classe dos guerreiros foi extinta, sou o único remanescente de um grupo de poucos, porém, dedicados estudiosos da guerra.
Éramos pacificadores, senhores da vida e da morte, com doutrinas de justiça. Essa prática foi banalizada pelo afrouxamento dos costumes, até que praticamente se esvaiu em pó pelas estradas dos tempos, como se nunca houvesse existido. Tolos assumiram o comando, uma horda de patifes ocultos. Assumem, implicitamente, a gestão das coisas, sem o mínimo de capacitação possível.
A irracionalidade tomou controle. As decisões e práticas com princípio e fim somente no poder vigoram, substituindo a honra do centro de todas as coisas. Na arte da guerra, era inconcebível uma pessoa existir sem ter como moto gerador da sua existência a honra. Agir segundo o dever, o que está prescrito na lei moral que bate em meu coração, não é mais útil nesses dias. Nem coração eu tenho mais, aliás. Parece viger o império do prazer animal, a atração medíocre para fins meramente banais, sem levar em conta o sentido das coisas.
Como discutir com gente assim? Não tem como. Argumentos racionalmente validados não fazem a menor diferença para quem vive e quem viveu e faz meta de vida na mediocridade cotidiana. As pessoas vivem numa redoma e não se deixam libertar dos bombardeios intensos que lhes reforçam a imbecilidade. Ninguém parece compreender meus pensamentos e meus sentimentos, é como se estivesse deslocado numa era em que o consumo dita tudo.
Muitos viveram tanto tempo como porcos que não sabem mais serem humanos. Arremesse-lhes filé mignon e fezes. Não sabem diferenciá-los, pois se esquecem muito fácil e muito rápido. Não esqueço nada. Por mais que meu corpo se deteriore, minha consciência é imortal e guarda tudo, como um gigantesco gravador magnético de pensamentos e sensações, sem lhe deixar escapar coisa alguma.
Impossível conversar ou travar um diálogo racional com quem se delicia em fazer outras pessoas de objetos de brincadeiras. O que dizer de pessoas que transformam o “Big Brother” um passatempo nacional, na qual outras pessoas são vistas como animais enjaulados, nos quais se aposta a sorte desses infelizes? É a educação para a hipocrisia. Imagine-se jogado numa arena e ser observado por multidões de curiosos que dão palpites sobre sua intimidade e privacidade, julgando seus atos pela lente de um microscópio.
Esses mesmos observadores, se tivessem o mínimo de vergonha na cara, morreriam de decepção ao se observarem, a si mesmos, nas mesmas condições do outro ser humano que foi torturado em sua intimidade e privacidade. Tempos inóspitos. São forças ocultas que fundam um pacto social baseado na manutenção da mediocridade. É para se manter tudo desse jeito, à mercê de patifes ocultos que comandam forças igualmente ocultas sem o mínimo de noção de qualquer coisa que seja.
O prelado da incompetência reina acima de quaisquer suspeitas. A inveja e o desejo de não deixar ninguém progredir acima do limite da mediocridade são os motos perpétuos da ignorância que sempre vai puxar o tapete de pessoas que não se vendem ao sistema. É impressionante testemunhar um patife choramingando porque não conseguiu lhe sacanear. Esse patife se acha a vítima da história toda, como se ele tivesse todo o direito do mundo de ferrar quem ele quiser.
Apreciem os mentores das forças ocultas que nos sujeitam, a todos, ao plano da mediocridade. Não há saída, pois eles estão em todos os cantos, como micróbios, dos mais contagiosos e purulentos, para lhe bisbilhotar. Seu passatempo é contar lorotas, como se fôssemos todos idiotas e caíssemos em conversas baratas. Eles fingem ser seus melhores amigos, seus confidentes e salvadores. Quando as coisas chegarem a esse ponto, lembre-se que só a chuva é real.
Só a chuva parece fazer-me recuperar algum tipo de propriedade sensorial. A chuva com propriedades curativas e purificadoras, fria e fina que tocam a pele como minúsculas centelhas, ou forte, como um arremesso voraz. Ela sempre me faz a consciência me lembrar, para sempre, quem sou e o que sou, e a quem devo evitar.
É o meu destino, é o caminho que decidi trilhar. Não há o que se lamentar, pois o que está feito está feito. A enfermeira vem e me acorda. Diz: “Está na hora do remédio.” Faço que engulo a pílula. Essas pílulas me deixam com pensamento embaçado. Não quero que me controlem, que me joguem para a realidade construída pelos irracionais. A minha realidade é mais interessante. Sou livre para falar com quem e quando quiser, pensar e sentir prazer com quem e quando quiser.
Vocês não têm nada a ver com isso, seus hipócritas. Se quiserem me humilhar, me torturar e me matar, façam-no. Jamais entenderão que eu sou livre, mesmo trancafiado nesse quartinho frio e imundo. Sou senhor de mim mesmo, mais do que imaginam. Aprendam a apreciar a chuva e vão enlouquecer outra pessoa. Vocês me transformaram em louco, mas os calhordas são vocês. Dentro de mim eu sou livre e ninguém me pode tirar isso. Deixem-me em paz.
Com o solo impermeabilizado quase por completo, a enxurrada nascia devagarzinho e ganhava força, à medida que descia com a aceleração da força da gravidade. Na avenida, outra torrente se formava rumo a planos mais baixos. Mas, justamente no meu ponto de ônibus, a água de chuva, adicionada de outros detritos, advindos da sua força de erosão, se aglomerava e formava uma pequena lagoa.
O ônibus parou. Abri o guarda-chuva e pulei uns dois metros. Não foi o suficiente. Pisei num pedaço da pequena lagoa, cuja força da correnteza jogou-me em pé para o centro. A força do vento entortou a haste do guarda-chuva. Os músculos penaram para sair do meio da lagoa. Iniciei a subida do morro de asfalto. A chuva veio com mais força e a torrente esbarrava no meu joelho.
Logo no topo do mundo artificialmente aquático, dobrei a esquina. A passos lentos caminhei para casa. Já estava mais molhado que um frango. A água lavou meu corpo e o frio parecia ter congelado as impurezas. Porém, a água era suja, impura, carregada de nojeiras. Livrei-me das roupas e entrei no chuveiro. Água quente para sacudir o esqueleto. Não me sentia com rigor suficiente para tomar outro banho de água fria.
Sou homem, mas não sou santo, nem eremita natureba. Seria mais fácil virar saco de pancadas do que levar as agulhadas das gotas de água fria. Permito-me poucos confortos, para não me acostumar com leviandades e luxúrias. Nada contra as opções sexuais não convencionais, só não curto que pisem no meu calo e não me respeitem.
Ainda com a cabeça para fora da janela, sinto o vento frio estapear minha face e a me despertar recordações. Deixo o frio entrar pelas minhas narinas para o frio espantar as fagulhas de preguiça que ainda se alojam no meu ser. Preciso ficar acordado para terminar a demanda. Não tem nada mais escroto do que deixar o trabalho pela metade. Não adianta tentar explicar. Qualquer tipo de trabalho intelectual, aqui, é tido como coisa de vagabundo.
Já pensou? Toda atividade que exige um pouco mais de esforço intelectual é simplesmente coisa de quem não gosta de trabalhar, é só ficar sentado lendo alguma coisa, ou na frente do computador. Pensamento reles de quem não tem noção de que é esse “trabalho de vagabundo” que vai levar o País ao desenvolvimento.
Existe uma preguiça de pensar que está arraigada inexoravelmente nas almas das pessoas. Criou-se uma cultura de extermínio de virtudes. Quem ousar galgar um degrau acima da mediocridade será destruído. Desafiar as estruturas é coisa de gente metida a besta, que gosta de aparecer, e que pensa que é melhor que as outras. Por isso, matutam os “cabeças pensantes”, é justificável o boicote e a humilhação dos que tiveram a ousadia de desafiar e ir além da tradição do nivelamento intelectual por baixo.
Acho que é por causa disso que eu nunca me permiti ir além dos deveres. Fui amaldiçoado em vida, como se fosse um leproso com as chagas invisíveis, que, mesmo assim, são repugnantes a todos os seres que encontro. Vivo no exílio, mesmo estando rodeado de pessoas. Tenho a precaução de não deixar que a maldição vá além de mim mesmo. Não me envolvo demais com os outros, pois sei que elas também serão fustigadas pelo meu tormento.
Mas quando eu lhe vi pela primeira vez, sabia que algo deveria mudar. E que as trevas que entornava meu coração, duro como pedra, deveriam dissipar-se. Olho para o infinito escuro que se desdobra na madrugada e vejo o seu rosto estampado na imensidão. Ilusão. É isso o que você é, uma ilusão mais distante que a lua que desponta ao anoitecer.
O céu está escuro e límpido, porém, sem estrelas. Só a lua para guiar os navegantes perdidos na imensidão da vida. Quem me dera ter um norte, um rumo, algo para me ancorar e não me perder diante das múltiplas escolhas da vida. Seria tudo tão simples, não ter que escolher, tudo estaria dado, escrito e marcado para ocorrer. Não seria livre. Mas também não sou livre se não sei o que fazer com a liberdade. Vá, seja livre, faça e seja o que quiser. Mentira, lorota barata.
De um modo ou outro, somos todos prisioneiros e carcereiros de nós mesmos. Encarnamos nossos mais perversos torturadores, nossas mais indefesas vítimas e nossos mais insensíveis julgadores. É verdade, porém, que quando julgamos nós mesmos, por mais horrendas que sejam nossas atrocidades, sempre nos sentenciamos inocentes. Imparcialidade é um mito. Imparcialidade é para os outros.
Volta a chuviscar. Do alto, as gotículas de água vindas do alto parecem minúsculas adagas transparentes que fazem ondular o céu escuro com pequenas punhaladas. Minúsculas adagas e tão finas quanto agulhas de acupuntura que se desmancham ao menor contato com a matéria mais bruta.
As pequenas alfinetadas dos chuviscos possuem propriedades terapêuticas. Nos seres malditos, como eu, lavam a alma, libertando-a dos pecados e dos pensamentos mais atrozes do interior obscuro que está sedimentado no insano.
Se existem pessoas às margens do contrato social, talvez eu esteja muito além dessa margem. O que eu sou exige que eu faça coisas desagradáveis, inaceitáveis para a maioria que prefere fechar os olhos à realidade como ela verdadeiramente é. A classe dos guerreiros foi extinta, sou o único remanescente de um grupo de poucos, porém, dedicados estudiosos da guerra.
Éramos pacificadores, senhores da vida e da morte, com doutrinas de justiça. Essa prática foi banalizada pelo afrouxamento dos costumes, até que praticamente se esvaiu em pó pelas estradas dos tempos, como se nunca houvesse existido. Tolos assumiram o comando, uma horda de patifes ocultos. Assumem, implicitamente, a gestão das coisas, sem o mínimo de capacitação possível.
A irracionalidade tomou controle. As decisões e práticas com princípio e fim somente no poder vigoram, substituindo a honra do centro de todas as coisas. Na arte da guerra, era inconcebível uma pessoa existir sem ter como moto gerador da sua existência a honra. Agir segundo o dever, o que está prescrito na lei moral que bate em meu coração, não é mais útil nesses dias. Nem coração eu tenho mais, aliás. Parece viger o império do prazer animal, a atração medíocre para fins meramente banais, sem levar em conta o sentido das coisas.
Como discutir com gente assim? Não tem como. Argumentos racionalmente validados não fazem a menor diferença para quem vive e quem viveu e faz meta de vida na mediocridade cotidiana. As pessoas vivem numa redoma e não se deixam libertar dos bombardeios intensos que lhes reforçam a imbecilidade. Ninguém parece compreender meus pensamentos e meus sentimentos, é como se estivesse deslocado numa era em que o consumo dita tudo.
Muitos viveram tanto tempo como porcos que não sabem mais serem humanos. Arremesse-lhes filé mignon e fezes. Não sabem diferenciá-los, pois se esquecem muito fácil e muito rápido. Não esqueço nada. Por mais que meu corpo se deteriore, minha consciência é imortal e guarda tudo, como um gigantesco gravador magnético de pensamentos e sensações, sem lhe deixar escapar coisa alguma.
Impossível conversar ou travar um diálogo racional com quem se delicia em fazer outras pessoas de objetos de brincadeiras. O que dizer de pessoas que transformam o “Big Brother” um passatempo nacional, na qual outras pessoas são vistas como animais enjaulados, nos quais se aposta a sorte desses infelizes? É a educação para a hipocrisia. Imagine-se jogado numa arena e ser observado por multidões de curiosos que dão palpites sobre sua intimidade e privacidade, julgando seus atos pela lente de um microscópio.
Esses mesmos observadores, se tivessem o mínimo de vergonha na cara, morreriam de decepção ao se observarem, a si mesmos, nas mesmas condições do outro ser humano que foi torturado em sua intimidade e privacidade. Tempos inóspitos. São forças ocultas que fundam um pacto social baseado na manutenção da mediocridade. É para se manter tudo desse jeito, à mercê de patifes ocultos que comandam forças igualmente ocultas sem o mínimo de noção de qualquer coisa que seja.
O prelado da incompetência reina acima de quaisquer suspeitas. A inveja e o desejo de não deixar ninguém progredir acima do limite da mediocridade são os motos perpétuos da ignorância que sempre vai puxar o tapete de pessoas que não se vendem ao sistema. É impressionante testemunhar um patife choramingando porque não conseguiu lhe sacanear. Esse patife se acha a vítima da história toda, como se ele tivesse todo o direito do mundo de ferrar quem ele quiser.
Apreciem os mentores das forças ocultas que nos sujeitam, a todos, ao plano da mediocridade. Não há saída, pois eles estão em todos os cantos, como micróbios, dos mais contagiosos e purulentos, para lhe bisbilhotar. Seu passatempo é contar lorotas, como se fôssemos todos idiotas e caíssemos em conversas baratas. Eles fingem ser seus melhores amigos, seus confidentes e salvadores. Quando as coisas chegarem a esse ponto, lembre-se que só a chuva é real.
Só a chuva parece fazer-me recuperar algum tipo de propriedade sensorial. A chuva com propriedades curativas e purificadoras, fria e fina que tocam a pele como minúsculas centelhas, ou forte, como um arremesso voraz. Ela sempre me faz a consciência me lembrar, para sempre, quem sou e o que sou, e a quem devo evitar.
É o meu destino, é o caminho que decidi trilhar. Não há o que se lamentar, pois o que está feito está feito. A enfermeira vem e me acorda. Diz: “Está na hora do remédio.” Faço que engulo a pílula. Essas pílulas me deixam com pensamento embaçado. Não quero que me controlem, que me joguem para a realidade construída pelos irracionais. A minha realidade é mais interessante. Sou livre para falar com quem e quando quiser, pensar e sentir prazer com quem e quando quiser.
Vocês não têm nada a ver com isso, seus hipócritas. Se quiserem me humilhar, me torturar e me matar, façam-no. Jamais entenderão que eu sou livre, mesmo trancafiado nesse quartinho frio e imundo. Sou senhor de mim mesmo, mais do que imaginam. Aprendam a apreciar a chuva e vão enlouquecer outra pessoa. Vocês me transformaram em louco, mas os calhordas são vocês. Dentro de mim eu sou livre e ninguém me pode tirar isso. Deixem-me em paz.
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