quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Fera e a Bela: uma entrevista com João Moshin & Cláudia



A música tem uma beleza capaz de domar as feras. O que ocorre quando o Fera e a Bela se juntam? Um show espetacular. Assim, se pode descrever a performance da dupla João Moshin & Cláudia. Isso é possível só para quem está na boca da mídia? Não. Eles provam que podem fazer isso, mesmo sendo gente como a gente, que trabalha de segunda a sexta-feira e pica cartão, no horário de entrada e saída. Mostram que é possível ralar a semana inteira e ainda aos finais de semana trabalhar mais e se divertir, fazendo o que gostam. Mais do que arte, o dom musical, para ambos, é a manifestação de algo muito maior que os transcende: é reverenciar a Graça Divina.

Cláudia

Cláudia ganhou seu primeiro pianinho aos 3 anos. Aos 8 anos, começou a participar do coral da escola. Escrevente no Fórum local, a cantora também não dispensa um filme. Assiste pelo menos um por dia. A moça tem sorte, muita sorte. Afinal, seu namorado, Ricardo Gomes, é dono de videolocadora (CM Vídeo). Mesmo assim, Cláudia e o namorado não dispensam um cineminha, umas duas vezes por mês pelo menos.

Apesar da correria do cotidiano, Cláudia consegue dividir seu tempo entre o trabalho, os pais e o namorado para agraciar os ouvintes com o dom divino das suas emanações locais. Mas Deus não revela os dons para os servos que têm preguiça de se aperfeiçoar. Cláudia estudou piano dos 10 aos 16 anos, com uma maestrina, em Sorocaba (SP), e no conservatório de Tatuí (SP). Na época, dava aulas de piano. Também lecionou canto. Hoje, porém, não tem mais tempo. Ensina só o irmão dela, que gosta de pagode. “Não gosto”, esclarece Cláudia. Já dizia o velho ditado popular que gosto não se discute. Respeita-se, pois o clima é democracia.

João Moshin

Acompanhado do violão ou do teclado, a timidez de João Moshin fica de lado e o vozeirão encanta os ouvintes. Sem comer cebolas, como aquela famosa piada infame e sem graça, ele é, realmente, um cantor garantido, garante o espetáculo e a acaricia os tímpanos dos ouvintes.

Casado com Celina, é pai de Priscila e de Bianca. Sempre simples e esperançoso, ele diz que além de Deus, O Todo Poderoso, completa o lar a cachorrinha poodle Jully.

Gente finíssima – quer dizer, além de magrinho, é muito legal também -, já apareceu no “Jô Soares Onze e Meia”, na época do SBT, foi personagem de publicidade na televisão e vira e mexe anima festas, casamentos, mais bares e restaurantes de Sorocaba e região. “O Jô me chamou de Fujimori. Todos caíram na gargalhada”, lembra.


Confira, um bate-papo com João Moshin e Cláudia.


PERGUNTA - Quando e como despertou seu interesse por música?

JOÃO MOSHIN IOBIKU - Minha mãe que infelizmente partiu cedo – em 1974, quando ela tinha 45 anos e eu, 14 anos -, dizia que desde bebê eu já me interessava em música. Quando comecei a andar, ao ouvir música, começava a dançar. Lembro-me vagamente que mamãe ao fazer os afazeres domésticos cantarolava canções japonesas. Não me lembro das músicas, mas certamente eram do dialeto Okinawa. Minha filha Priscila, gosta de cantar e é muito afinadinha, mas é muito inibida. Por enquanto, solta sua voz aqui em casa quando estamos só nós. A Bianca é mais extrovertida, quem sabe futuramente pinte algum interesse musical . . . A Celina, minha esposa, só aprecia a música, também me ajuda a compor os repertórios e agendar os compromissos.

PERGUNTA - Quem é Cláudia, a cantora e no cotidiano? Como foi seu primeiro contato com a música?

CLÁUDIA - Sou funcionária pública desde 1992. Trabalho no fórum como escrevente. Além da música, tenho uma paixão muito grande por filmes. Assisto pelo menos um filme por dia. Eu namoro. Não moro com meus pais. Mas não consigo ficar um dia sem vê-los. Eu os vejo todos os dias, sim. Nós nos amamos muito e não ficamos sem nos falar, nem nos ver. Pode ser que o fato da criação influa também, mas do lado positivo. Tenho o maior respeito por eles e quando tiver filhos gostaria que eles também tivessem por mim e tenham o maior orgulho de mim como tenho dos meus pais. Desde muito pequena. Quando tinha 3 anos, ganhei meu primeiro pianinho. Meu pai me gravava desde essa idade cantando, num gravadorzinho que ele tinha. Comecei a participar do coral da escola em que estudava aos 8 anos.

PERGUNTA - Quais instrumentos você toca? Como começou a tocar cada um deles?

JOÃO MOSHIN - O instrumento de paixão mesmo é o violão. Também toco o teclado, mais pelos recursos que oferece. Por volta dos 15 anos, estudava na Instituto de Educação Estadual Júlio Prestes de Albuquerque (IEEJPA). Na época do antigo ginasial, tinha um amigo, chamado Leôncio Ruiz Filho, que me emprestou um violão. Não sabia tocar nada, foi mais para conhecer o instrumento. Estava na sala de casa, quando, ao levantar, bati a lateral do violão numa mesinha de centro e infelizmente ou felizmente, sei lá, quebrei o dito cujo. Comprei um violão novo para ele e fiquei com o quebrado, remendado com fita isolante. A partir daí começou o namoro que perdura até hoje. Comprava aquelas revistas de músicas cifradas (VIGU) e praticamente aprendi tudo sozinho. Quanto ao teclado tive aulas por um período no Piano Center, em 1997, e depois também comecei a estudar sozinho o instrumento.

PERGUNTA - Qual a sua formação musical? Qual o seu método para lecionar música?

CLÁUDIA - Estudei piano dos 10 aos 16 anos, com uma maestrina em Sorocaba (SP) e no conservatório em Tatuí (SP). Durante esse período dava aulas de piano. Ultimamente, não tenho tempo para dar aulas. Só ensino meu irmão. Ele adora pagode, mas eu não gosto. Quando costumava dar aulas, procuro imaginar o que o aluno tem em mente e o que ele gosta. Assim, as aulas ficam mais agradáveis. A maioria gosta de cantar música sacra. Eu sempre cantei na igreja, os alunos me conheceram por lá também. Então, a maioria deles canta em missas. Depois, verifico quais são as dificuldades do aluno, se é dicção, audição ou ritmo. Aí, trabalho com para sanar a sua dificuldade. Só desse jeito o aluno consegue cantar melhor. Há pessoas com vozes bonitas, mas quem ouve não entendem o que cantam. Nesse caso, trabalha-se a dicção. Outros “entram” fora do tempo, O problema dela é o ritmo. E assim por diante.

PERGUNTA - Você é bem conhecido em Sorocaba. Como tudo começou?


JOÃO MOSHIN - Comecei tocando nas missas dominicais, participava de Festivais de Música Sacra e outros Festivais na cidade e região, inclusive as do Clube Recreativo, aqui em Sorocaba (lembro que, entre outros, participavam Milton Carlos, Celso Viáfora e Genésio Sampaio). Participei do Grupo de Jovens "Jofra" (Jovens Franciscanos) da Igreja Bom Jesus, no bairro Vila Hortência. Foi o primeiro grupo amador a se apresentar e a lotar o Teatro Municipal Teotônio Vilela, com a peça "Francisco, o Ato Eterno", cuja trilha musical foi composta por mim, Rubinho (como Francisco, ator principal) e Hamilton Sbrana (texto e direção). Gostava das noitadas. Onde tinha música ao vivo estava lá para ouvir e também aprender. Aos poucos fui me enturmando com os músicos e no intervalo pedia para dar uma canja, mas sempre como músico, pois no começo apenas tocava. De 1989 a 1991 arrendei o bar no meu tio Francisco Moko Yabiku, que se chamou Shogun - Piso Superior. Foi lá que comecei a cantar mais, junto com os amigos Luis Baldini e Diogo. Eu me apresentei ainda no Restaurante Villa Moreno, Kanakauê, Cachaçaria, Bar Flamingo, Porções, American Bar do Ipanema Clube, Shopping Esplanada, Shopping Plaza de Itu, Bar e Restaurante Baco de São.Roque, Restaurante Fiorentina e Spa Campus.

PERGUNTA - Qual o seu passado musical?

CLÁUDIA - Já fui professora de canto pelo curso ministrado pela Arquidiocese de Sorocaba. Comecei cantando em festivais de música sacra aqui em Sorocaba e nas cidades do interior paulista como Osasco, Guarulhos, Suzano, Cruzeiro e em Varginha (MG). Além de intérprete eu compunha as músicas.

PERGUNTA - Hoje em dia, onde vocês tocam?

JOÃO MOSHIN – Atualmente, temos feito mais cerimônias em Igrejas e Recepções de casamentos.

PERGUNTA – Mudando de assunto e sem quer ser machista ou coisa do tipo, Cláudia. Seu marido lhe acompanha nos shows? O que ele acha da sua atividade?

CLÁUDIA - Meu marido, o Ricardo, não me acompanha por dois motivos: ele trabalha até tarde e nos shows eu estou trabalhando. Seria a mesma coisa se ele ficasse na locadora, e eu ficasse do lado, vendo-o trabalhar. Não dá, gente! Mas nós nos vemos todos os dias. Mesmo depois dos shows, até quando acaba às 2h00 horas. Às vezes, ele vai comigo aos shows. Quando é em outra cidade, eu peço para ele ir comigo, pois não gosto de dirigir à noite nas estradas. Mas só quando é assim. Não é nada legal ficar sentado num lugar em que você não conhece ninguém, esperando que a festa acabe.

Mas ele adora o fato de eu cantar. È meu fã número um. Todas as músicas que o João grava e me manda ele tem gravada também e fica ouvindo. Ele me pede pra tocar violão e cantar pra ele e coisa e tal. Além de tudo, torce pra que tudo dê certo e me incentiva a cantar. Eu acho que se rola ciúmes é bem pouco. Ele confia em mim. Sabe que não extrapolo em nada, principalmente na maneira de me vestir.

PERGUNTA – Nesse sentido, qual é a dica que você dá para as mulheres?

CLÁUDIA –
Acho isso muito importante falar disso. Você precisa ser chique e discreta, elegante sem ser sensual, pois você está trabalhando. Sinceramente eu sou muito mais ciumenta que o meu namorado.

PERGUNTA – Bom, voltando ao fio da meada. João, quais foram suas parcerias mais memoráveis?



JOÃO MOSHIN – Tive e tenho inúmeras parcerias com músicos daqui, inclusive toquei um bom tempo com a Banda MPM. Quanto às memoráveis apresentações, uma delas foi a apresentação no Programa Jô Soares Onze e Meia, em 1997 quando ainda era no SBT. Eu participava do "Eu Show a Lei", um musical beneficente, produzido por um grupo de advogados, o interessante é que num repente, durante a entrevista com a advogada Lilian Rose, o Jô me abordou e disse: "E o Fujimori. O que está fazendo aí no meio?" Foram só risos. Uma outra memorável apresentação foi em 1995, em Salto de Pirapora (SP). Na época, trabalhava naquela cidade e ganhei o Festival de Intérpretes, na modalidade Música Popular. O prêmio caiu do céu pois, além do troféu, desembolsei R$ 2 mi, que usei para trocar de carro.

PERGUNTA - Como foi formada a dupla João Moshin e Cláudia?

CLÁUDIA - O João estava procurando uma cantora que quisesse realmente formar uma dupla. Na época, eu não estava cantando em banda alguma. A cantora que cantava com o João (a Gabriela), que também trabalha no fórum, ficou grávida. Lá no fórum mesmo, ela soube que eu também cantava e me perguntou se poderia passar o número do meu telefone para o João. Ele ligou e marcou um dia para cantarmos na casa dele. Combinamos e deu certo. Isso ocorreu em maio de 2004. A partir daí, a dupla está caminhando muito bem.

PERGUNTA - Você tem notadamente uma influência MPB bem acentuada, mas navega também por outros estilos musicais. Quais foram suas influências do passado e de hoje?

JOÃO MOSHIN - Sempre gostei de Chico, Caetano, Gil, Djavan, Fagner, Tom e outros tantos. Passava horas e horas escutando e tentando tocar igual. A maior satisfação era conseguir reproduzir "aquele acorde" diferente. Hoje, não me prendo por esse ou aquele estilo, pois o que mais faço hoje é tocar em Festas e Casamentos e aí rola de tudo, de Frank Sinatra a Frank Aguiar.

PERGUNTA - Como você monta o seu repertório?

JOÃO MOSHIN - O repertório tem tudo a ver com sua sensibilidade, pois cada ambiente e cada dia são momentos diferentes. Por isso, não tenho um repertório pré-estabelecido, vou seguindo conforme o andamento da festa ou ambiente.

PERGUNTA - No que se baseia o repertório da dupla?

CLÁUDIA - Nós cantamos de tudo. Como fazemos festa, o repertório precisa ser bem variado. Cantamos músicas românticas, MPB, forró, boleros, country, anos 60, anos 70, axé, pop e quase tudo o que toca nas rádios e faz sucesso.

PERGUNTA - Como rolou aquele negócio de você ser garoto propaganda de uma empresa? Foi bom para você arranjar mais shows?

JOÃO MOSHIN - Na época, a empresa do ramo imobiliário "Emaximóvel" instalava uma filial aqui em Sorocaba, com sede em Osasco (SP). Ela procurava uma pessoa nipônica conhecida na cidade para fazer uma propaganda divulgando o slogan da empresa: "Aluguel garantido!”. Disseram que procuraram várias pessoas, mas como o japonês normalmente é mais fechado e tímido, ninguém aceitava fazer o papel. Numa vez, uma funcionária da empresa me viu tocar num bar e me convidou para fazer um teste. A princípio, não aceitei, mas diante da insistência e vendo a sua dificuldade, acabei fazendo o comercial, que foi um sucesso, pois compraram o horário mais caro da época, intervalo da “novela das oito”, da Globo, e Faustão. Vivi, por um tempo, momentos de fama, pois todos me reconheciam. O cachê não foi muito, mas foram os 30 segundos mais bem pagos da minha vida. Para a Empresa também deu um grande retorno, tanto que, quando passo por lá, os donos dizem que até hoje os clientes lembram e comentam da propaganda.

PERGUNTA - Num breve relato: o que é tocar e cantar para você?

JOÃO MOSHIN - O poder da música é indescritível. Para mim, tocar e cantar é um dom que Deus me deu de passar emoções a outras pessoas e sempre agradeço por isso.

PERGUNTA - Então, para você, cantar é como rezar, uma maneira de se reverenciar a Graça Divina?

JOÃO MOSHIN - Realmente você traduziu tudo que sinto. Conforme relatos anteriores não dá para ficar indiferente, pois Deus, quando mais precisei, sempre esteve presente, quer num prêmio de festival, quer num cachê de comercial. Cada vez que lembro desses episódios fica clara a Sua presença, basta querer enxergar.

Você pode pensar que estou bem de bolso, mas infelizmente não dá para viver só de música. Às vezes é cansativo, mas no País em que vivemos, agradeço por ter dois empregos.

PERGUNTA – E para você, Cláudia? O que é cantar?



CLÁUDIA - É como me transformo. Sou eu mesma, mas sou mais feliz. Acho que é uma manifestação divina também, pois é necessário ter o dom. Assim como os pássaros cantam, por um dom de Deus, Ele também dá esse dom a alguém. E eu me sinto agraciada por isso. A dedicação nos faz ser bons músicos, aplicados, mas nunca excepcionais e talentosos. Em qualquer ramo, vemos pessoas que trabalham bem e outras que vemos que “tem o dom pra coisa”. Assim é com a música. Desde pequena demonstrei que gostava de cantar, dançar. Então com o tempo, fui aprimorando esse dom, lapidando-o para tentar ser uma boa música hoje em dia. Sempre estudo, leio e ensaio. Não paro nunca, pois nunca estamos prontos. Sempre estamos aprendendo.

PERGUNTA - E viver somente de música? Já pensou nisso? No Brasil, tem jeito, ou não?

CLÁUDIA - Eu nunca imaginei ganhar dinheiro com música. Cantar é o que sei fazer, a música entrou na minha vida muito cedo. Para mim é prazeroso. Acho que não gostaria de viver só de música. Como tenho outro emprego, no fórum, é nos finais de semana, nas festas em que canto, que me livro do estresse. Se dependesse disso financeiramente, para viver não seria tão bom. Sinto alegria em cantar e gostaria de continuar como estou, apesar de achar que alguns cantores podem muito bem viver da música. Existem amigos meus que cantam profissionalmente e só vivem disso. Mas pra mim a música é minha parceira, companheira mesmo, não queria vê-la como trabalho. Música para mim é sempre prazer e alegria.

PERGUNTA - Por que a dupla João Moshin & Cláudia dá certo?

CLÁUDIA - Acredito que é por uma série de fatores: eu e o João temos outro emprego. Isso nos faz agendar shows só nos finais de semana. Mas às vezes, há exceções. Além disso, vemos como nosso “trabalho” aquele que vamos todos os dias, batemos cartão. Aquela rotina que todo brasileiro conhece tão bem. A música é o que nos faz extravasar. Além disso, temos um respeito muito grande um pelo outro. Ensaiamos todas semanas e procuramos dar o melhor de nós no palco.

Maiores informações: http:www.joaomoshin.com.br


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