A tarefa do educador contemporâneo não é fácil. Há de se lutar, primordialmente, contra a superficialidade que assola praticamente tudo, levando as pessoas a quererem viver uma realidade rasteira, sem crítica, nem muita reflexão sobre o próprio ato de viver, em si. A competição no mercado de trabalho se dá em escala global, o que faz com que a educação tenha também papel primordial na formação de competências técnicas.
Porém, a mecanização das relações sociais, fruto da razão instrumental, que transforma tudo, até mesmo outras pessoas, em meios para se atingir um fim, que pode ser o lucro, entre outros, deixou a ética para um plano secundário, assim como a cidadania.
O professor parece ser um profissional de pouca categoria, que serve apenas formar uma mão de obra básica. Os salários são baixíssimos com relação a outras categorias profissionais de nível superior e a valorização profissional é cada mais deixada às traças.
Existe um discurso de prática contra a teoria. Esse discurso é imediatista e pouco pertinente para a discussão ética. A prática serve apenas para ocupar as vagas oferecidas pelos meios de produção. A valorização somente da prática breca qualquer tipo de pensamento mais profundo que possa questionar o sistema em si.
Um profissional para competir em escala global precisa ter uma formação ímpar, de elite. Um professor, então, nem se fala. Mas essa é a intenção do sistema? Ter um professor formador de elites, ou um professor formador de mão de obra desqualificada apenas?
No papel, verificamos que se fala em técnica, ética e cidadania, mas na realidade isso é bem diferente. Parece que se brinca de ensinar e se brinca de aprender. Um aluno formado num sistema deficiente não terá independência profissional e terá de se sujeitar aos sabores das migalhas do que o mercado de trabalho lhe oferece.
Como falar para um sujeito que não consegue se afirmar perante o mercado de trabalho que lhe garantirá a subsistência, e de seus familiares, cumpra as leis e seja ético? Ele fará de tudo para manter o emprego, mesmo que tenha de pisar nas suas convicções. Primeiro é preciso existir.
O desafio do milênio é capacitar um professor, que seja a elite da elite intelectual, para formar quadros da elite. Porém, que os acessos a essa elite seja aberto a todos de forma eqüitativa e proporcional a cada um. O professor não pode ser mais um “obreiro” do sistema. Ele é o sustentáculo de um sistema. Quando se quer um sistema capenga, os professores serão capengas. Por outro lado, o professor é extremamente qualificado e valorizado quando se quer um sistema que não seja o empurrar de barriga a situação.
Um professor de alto nível faz o aluno perceber a todo momento as razões do que aprende, o porquê aprende e as eventuais reformulações do que faz. Não formata robozinhos para a linha de montagem. Quer dizer, pode ensinar a técnica, mas também o ensina a pensar. Pensar por si mesmo, o que é mais importante.
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