As classes sociais são como patamares que, conjugados, adquirem o formato de pirâmide - uma representação geométrica da sociedade. Logo na base, estão as classes sociais que suprem com seu trabalho os meios de produção, em troca de um salário que lhes garante a subsistência. Entre a base e o topo, estão as classes médias, mais estratificadas, que vêm perdendo paulatinamente seu poder econômico. No ápice da pirâmide social, está a elite, que, ao contrário dos conceitos generalistas, não possui consistência homogênea. Pode-se fazer a distinção de três grupos principais, nesta categoria: elite sócio-econômica, elite política e elite intelectual.
A elite sócio-econômica é composta pelos mais abastados, aqueles com condições financeiras mais confortáveis diante dos demais membros da sociedade. Geralmente, seus componentes são tidos como os exemplos a serem seguidos, já que a noção de sucesso, na sociedade de consumo, está atrelada principalmente à capacidade de possuir mais que o outro. Devido a esta peculiaridade, a elite sócio-econômica está próxima da elite política, cujos membros são o sustentáculo da estrutura burocrata do Estado, entidade que detém o monopólio do uso da violência. Assim, a capacidade de aquisição econômica tem estreita conexão com o poder político, demonstrando algo mais que uma simples delimitação de áreas afins entre estas duas elites.
Por fim, a elite intelectual é a que mais se identifica com o exercício e a expressão do pensamento, com a construção e divulgação do saber e a crítica à realidade tal como ela é apresentada pelos grupos citados anteriormente. Para isto, entretanto, se faz necessário que a elite intelectual não seja composta por simples “onanistas mentais”, cuja produção não tem sentido algum, a não ser figurar nas teses e elocubrações que nunca terão utilidade alguma, nem na construção do conhecimento.
Dentre estas três elites, a intelectual é a que teria maior legitimação dos seus atos por estar conectada diretamente à produção cultural e à formação da erudição diante dos demais grupos sociais. A partir deste pressuposto, todos que atingem certa posição, nas elites sócio-econômica e política, também querem para si a alcunha de “intelectuais”. Deve-se isso à idéia de que a cultura seria um produto à venda, de fácil assimilação, que poderia ser incorporado num reles estalar de dedos. Esta a visão, que infelizmente prevalece, ocorre porque a produção intelectual e o incentivo à crítica são tidos no Brasil como bens acessórios, apetrechos egocêntricos dos mais afortunados.
Com isso, os membros das elites sócio-econômica e política consideram-se automaticamente intelectuais. Mancomunados com as estruturas do poder, julgam-se no direito de estarem certos ou de terem razão em todas as circunstâncias e, assim, estabelecerem os seus estatutos deontológicos (de “dever ser”) para toda a sociedade. As decisões, concentradas nestas duas elites, não se guiam necessariamente por um caráter racional com relevância na sociedade, mas por um sentimento de manutenção dos conceitos por elas estipulados como únicos e “verdadeiros”.
A desigualdade social está muito além daquilo que é tangível, está na maneira de se pensar. Os membros da elite são iguais dentro do círculo social que freqüentam. Mas, muitas vezes, não visualizam como iguais os que estão nas periferias dos seus grupos de convivência. Enxergam os outros com um prisma que lhes impede de ver a realidade com empatia: não sabem se colocar no lugar daqueles que são mais pobres, mais inteligentes, ou ambos. A desigualdade, então, é decorrência dos atos daqueles que não conseguem enxergar outra coisa além do próprio umbigo.
Pertencer a uma elite não quer dizer que um sujeito tem, automaticamente, dotes intelectuais. Significa apenas que é membro de uma minoria que, por ter influência ou acesso aos pontos estratégicos do poder, concentra a maior parte dos benefícios construídos inicialmente para o bem comum – incluindo a renda -, em detrimento de uma multidão de pessoas famintas, iletradas e, muitas vezes, sem esperança de ver dias melhores. Ser político ou rico não implica necessariamente ser um intelectual ou ter razão inexoravelmente. Indica simplesmente maior poder de persuasão. Para ser intelectual, é preciso estudar. Mas para ser sábio é necessário saber compreender os outros para, assim, ampliar sua visão de mundo.
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2 comentários:
Concordo inteiramente com o texto, porem. devo falar q "dessas todas" elites a intelectual é a mais preconceituosa de todas. Assim vejamos, é a primeira a criticar qualquer demonstração de cultura das camadas mais baixas da piramide. Um exemplo é o funck ou axe que recebem fortes criticas.Tudo bem que não vamos fala q é a melhor forma d cultura, alem das criticas a modo de se vestir ou falar, ou ainda a falta de leitura ou do q lem. Essa elite sento em seu trono de saber e julga q tudo fora de seus dominios é lixo, se tornando arcaica, esta estagnada. Da mesma forma q o samba qdo surgio foi criticado e hj é tido como traço de ser brasileiro, se vc naum gosta de samba boa gente naum é. Porem do samba aceito por eles, fugir um pouco do modelo deles ja é porcaria. Tanto é verdade que a propria mpb esta morrendo a anos pq para essa eleite o bom é o antigo chico boarque ou elis regina, o novo so serve como cult. Novos altores se não fazem um novo campitaes de areia não serve.
Sem conta que são os mesmo a chamar o povo de ignorante, q num sabe vota q isso e akilo so criticando o POVO. E se esquecem q sao povo.
Abaixo a elite pensadora =P
Paulo
Interessante debate sobre cultura popular, cultura de massas e cultura erudita foi publicado no livro "Convite à filosofia", da professora Doutora Marinela Chauí, da Universidade de São Paulo (USP). Vale a pena conferir.
Grande abraço e boa leitura.
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