sexta-feira, 22 de maio de 2009

Paradoxos da tecnologia

O conjunto dos conhecimentos que sistematizam a atividade humana para certas finalidades é conhecido como tecnologia. É um impulso da criatividade do homem, organizado racionalmente, para otimizar a produção e atingir seus objetivos com a maior eficácia possível. Nota-se a sua presença e evolução desde os rudimentares instrumentos de caça dos trogloditas aos sofisticados microchips dos notebooks dos executivos de empresas multinacionais.
Cada período histórico é caracterizado pelo emprego particular de algumas tecnologias. A revolução industrial, ocorrida na Europa dos séculos XVIII e XIX, foi estimulada pelo progresso das máquinas, tanto as têxteis quanto as movidas a vapor - uma nova tecnologia que impulsionou os transportes daquela época.
Essas máquinas, símbolos do novo desenvolvimento tecnológico de então, também significavam uma nova organização da sociedade, arraigando as bases do sistema capitalista industrial.
Com esse paradigma já incorporado pela modernidade, hoje se passa por uma outra revolução industrial, a das tecnologias da informação. As máquinas são corriqueiras no cotidiano, portanto, o elemento que confere o poder é a informação: dos aspectos administrativos da burocracia estatal e das empresas privadas; dos procedimentos operacionais das máquinas e dos seus formalismos; e dos novos códigos veiculados pelos novos mídia, como a internet.
A revolução das tecnologias da informação foi fundamental para o atual estágio de globalização financeira, pois aproximou mercados e agilizou as transações de negócios. Contudo, o não acesso a essa tecnologia forma um grupo de excluídos da sociedade da informação. Paradoxalmente, ela inclui e exclui ao mesmo tempo.
Na primeira questão, inclui o internauta – aquele equipado com um computador, seja dele, da empresa ou de conhecidos – numa sociedade virtual cosmopolita. A exclusão, alentada na segunda hipótese, é reflexo da concentração de renda que seqüestra os benefícios da modernidade para uma parcela diminuta da população.
Sendo assim, o que falar da grande maioria, moradora da periferia, que assiste os programas da televisão aberta e nunca ficou diante de um monitor de computador na vida? Essa mesma tecnologia, que congrega os mercados e as empresas, poliniza a indiferença ao semelhante.
No mundo inodoro da Internet, a pobreza, a fome e a violência são matéria-prima pasteurizada em forma de conteúdo sob encomenda para os sites, atendendo as expectativas dos consumidores da informação. No outro viés, na rua enlameada pela falta de asfalto, com iluminação ausente, há pessoas que se informam pelos meios de comunicação de massa tradicionais e pelo ensino público, deveras abandonado.
Caso não sejam aprimoradas políticas públicas que melhorem a formação intelectual e o acesso à tecnologia da informação, a exclusão social se fará cada vez mais gritante, pois haverá negação sumária do aprimoramento das capacidades de bilhões de miseráveis.
Tal como é distribuída e controlada, a tecnologia da informação une – não fisicamente, mas virtualmente – a minoria favorecida dos países, burlando as fronteiras físicas, para criar um novo universo semiótico pautado no distanciamento do mundo real. Confinados nos quartos e nos escritórios, os burocratas da sociedade informatizada tomam decisões que influem decisivamente nas vidas dos excluídos, cuja subserviência tem origem no não-acesso à informação. Impregnada pelo virtual e pelo indiferente, surge uma estrutura de administração com ponto de partida “naquilo que se imagina ser” – que não é necessariamente uma percepção racional – para moldar “aquilo que, de fato, é”. Tais discrepâncias, entre o que se imagina e o que realmente é, podem causar sérios prejuízos nos destinos de uma nação. E quem é que vai pagar por isso?

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