quinta-feira, 21 de maio de 2009

Imperialismo cultural

A gente se acostuma tanto a ouvir o inglês - o novo latim, ou seja, a língua universal e inquestionável – que não presta mais atenção nos outros idiomas e acha até chique usar palavras com trejeitos do Tio Sam। Apesar de ser um ponto convergente nesta Babel pós-moderna, de pluralidade de ideologias, religiões e idiomas, há o risco de rejeitarmos tudo o que não é versado conforme o figurino anglo-saxão.
Ouvimos músicas em inglês, mas achamos brega as canções em espanhol, italiano, francês, japonês, hindu ou alemão। É uma globalização em que há somente uma única e unilateral manifestação de vontade, calcada na hegemonia norte-americana, com as migalhas para os outros países de língua inglesa.
Ficamos como papagaios, repetindo palavras que nem sabemos o significado, e como macacos, vestindo roupas que não se adequam à nossa conjuntura tropical. Nossa identidade cultural se estrepa porque deixamos de valorizar aquilo que é nosso e nos privamos de conhecer as maravilhas produzidas por gente do resto do planeta.
Das agências de notícias, vamos direto nas de língua inglesa, afinal, quem sabe ler árabe, persa, russo ou japonês? E compramos, com isto, a versão oficial do Império, moldando nossa visão de mundo conforme suas regras de consumo e padrões aceitáveis de conduta, incorporando o neoliberalismo nas nossas almas. Reproduzimos o sistema que nos fustiga e nos tornamos carrascos de nós mesmos e nossos irmãos.
Nas telas do cinema, ou debaixo das cobertas, na frente da televisão e do videocassete, idolatramos heróis norte-americanos e nos esquecemos dos nossos mártires. Em vez de gozarmos por nós mesmos, sentimos prazer ao cultuarmos o “top ten” ianque. Uma masturbação mental tremenda, que nos leva à bancarrota, e nos impede de alavancar e impulsionar nossa produção cultural.
Aprendemos que os seguidores do Corão são “maus” conforme ditam os âncoras da CNN, ao som de “Born in USA”, de Bruce Springsteen. E nos esquecemos das maravilhas que os muçulmanos legaram às nossas vidas, como a geometria, a álgebra e a ótica, ensinadas na Universidade de Oxford, algo que hoje os ingleses rejeitam-se a divulgar.
Nos filmes, a garota do país subdesenvolvido sempre cede ao charme do garanhão norte-americano, nem que seja à força. Afinal, é uma nação que sempre quer estar por cima. Mas um dia é da caça e o outro é do caçador, por isso, surgem as guerras estúpidas e os atentados insanos.
O grito disforme dos marginais da ordem internacional se revela no desespero e na miséria das favelas do mundo todo. Aqui, o caipira toca sua viola e canta os dramas da sua vida curtida a sol, na roça. Entretanto, depois que faz sucesso, pega uma guitarra elétrica, aprende o blue grass e o country music e se veste como caubói americano. Em seguida, entra para o “Mundo de Marlboro”. Não temos o “Cavaleiro Solitário”, nem seu companheiro “Tonto”, mas nossos brinquedos glorificam o pistoleiro e o índio norte-americano. Enquanto imbecilizamos as nossas crianças, estimulando-as a brincar segundo um folclore importado, os nossos nativos estão sendo expulsos das suas terras por grileiros.Paradoxos e mais coisas sem nexo. Afinal, somos apenas humanos.

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