As
pétalas de rosa se desmancham, suavemente, ao toque com a pele áspera dos meus
dedos calejados pelo trabalho, pelo tempo e, principalmente, pela amargura da
vida. Minhas mãos, minha alma e o meu ser nunca aprenderam o sentido de
suavidade. A casca de pele grossa embota o tato. Para tentar sentir algo,
encosto o que resta das pétalas no meu rosto. A pele facial, um pouco menos
calejada, apreende uma minúscula, mas eficiente, carga de delicadeza.
O odor
agradável e discreto das pétalas de rosa me promove uma sensação de leveza,
diferente dos odores carregados de perfumes artificiais e desodorantes baratos.
A natureza da vida tem seus encantos e as flores têm seus devaneios.
O
embrutecimento do ser afasta os pequenos, mas significantes, prazeres do
cotidiano, como o cheiro e a suavidade da pele de uma mulher. Tal como a
sutileza das pétalas de rosa, o toque dos dedos causa arrepios na minha pele
desnuda, eletrizando-a, para atrair magneticamente os meus e os seus lábios.
O
contraste de sensações do toque dos seus dedos no meu rosto é evidente. A
leveza da sua pele e a aspereza da minha parecem magnetizados um pelo outro. O
odor de rosas que permeia o seu ser deixa o mundo mais bonito e, com isso,
motiva a vontade de viver. Por isso, o meu mundo torna-se cada vez mais lindo
quando eu estou perto de você.
Não
tenho vícios, mas estou dependente pelo desejo cotidiano dos seus beijos. Seus
lábios mornos transmitem milhares de pequenas ondas eletrizadas que
rejuvenescem os meus lábios descascados, convertendo-os em matéria viva. E,
novamente, respiro, pois o ar exalado dos seus pulmões é o mais puro perfume
que me acalenta a vontade de existir.
Só com
a sua presença, o desânimo desaparece. Os mais sinceros sentimentos reaparecem
e têm um sentido: servir o que me cabe de você. Sei que as flores secam para
dar espaço às sementes, mas para, mim, sempre será a flor das pétalas mais
suaves, do mais penetrante perfume e da mais atraente pureza.
Decifro as mensagens da sua linguagem corporal e noto a
atração – e não, simplesmente, magnetismo animal. Da sua fronte, encanta-me tal
como uma serpente e me orienta para um destino que parece ser fatal. Sinto-a
tocando minha pele, apesar da longa distância. Sua presença, mesmo que por um
milésimo de segundo de ilusão, foi o suficiente para que meu ser se
transformasse em dependente do seu ser.
Sua voz é música. Seu sorriso, estrelas. Seus olhos, diamantes lapidados. Sua alma é combustível da minha existência. Você se aproxima e se afasta propositalmente, para atiçar o meu desejo. Sabe, com exatidão, os pontos de pressão da minha alma a serem manipulados pelas agulhas impregnadas com o zelo da sua vontade.
O que você é? Um anjo? Um ser de matéria sublime, além da
densidade da matéria? Por isso, a procura incessante por alguém que não está
neste plano, mas num patamar ideal, de perfeição e beleza celestial. De cara
com a parede de concreto, um choque de realidade. Talvez, não seja nesta vida
que lhe irei encontrar, mas persigo e conquisto, ainda mais, o desejo de lhe
encontrar.
Quem, ao menos uma vez, tivera a chance de conhecer a
verdadeira essência do amor? Neste mar de imperfeição deste mundo sólido,
permeado de mentiras e decepção, as coisas menos relevantes se tornam mais importantes,
objetos da cobiça humana.
A fortuna não me agraciou com a riqueza, ainda que eu a
perseguisse. Porém, ao longo das minhas conquistas, houve um momento em que
nada mais me aprazia. Acumulei riquezas, perdi riquezas. Conheci profundamente
a popularidade e a solidão – cada qual com seus aspectos positivos e negativos.
Mesmo diante da escassez de bens, meus anseios não eram
por valores monetários. Mesmo que me pudessem oferecer todas as riquezas do
mundo, tudo o que eu quero é você.
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